A aposta do rato
Disney leva “Mulan” para sua plataforma de streaming e deixa cinemas sem um dos principais blockbusters da temporada. No Brasil, Bolsonaro usa polícia para tomar chaves da Cinemateca.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
A atriz chinesa Yifei Liu, protagonista da versão live-action de “Mulan”. Foto: Disney
Em um movimento que pegou o mercado cinematográfico de surpresa, a Disney anunciou na terça-feira que “Mulan” será oferecido a clientes da sua plataforma de streaming Disney+ (nos EUA e em outros países selecionados) a um preço de 29,99 dólares, a partir de 4 de setembro. É necessário ser assinante do serviço, no entanto. A assinatura mensal nos EUA custa 6,99 dólares, o que aumenta o valor total para ter acesso ao filme para cerca de 37 dólares. (The Hollywood Reporter)
A decisão da Disney frustrou bastante os donos de cinemas, pois “Mulan”, dirigido por Niki Caro (“Encantadora de Baleias”), era visto como peça-chave para a retomada do funcionamento das salas junto com “Tenet”, da Warner Bros. Houve até mesmo gente destruindo display do filme para mostrar indignação. (MovieWeb)
Para quem achou ousado o acordo entre Universal e AMC na semana passada, a cartada da Disney cruza definitivamente a linha. Afinal, o estúdio será detentor integral da arrecadação do filme, sem falar nos dados e modos de consumo do público, elementos hoje em dia tão valiosos quanto moeda. Uma nova era está de fato se desenhando. (IndieWire)
O presidente da Disney, Bob Chapek, afirmou que o lançamento do blockbuster na opção PVOD (Premium Video on Demand) é uma decisão “pontual”. E o público-alvo da Disney neste caso, claro, são as famílias: pouco menos de 40 dólares é uma pechincha para pais que levariam suas crianças ao cinema. E além disso, o filme ficará disponível para ser visto quantas vezes elas quiserem, enquanto a assinatura na Disney+ estiver ativa. (IndieWire)
É difícil haver uma ratoeira no caminho, mas o que definirá o sucesso da estratégia da casa de Mickey é, claro, a matemática. E um primeiro cálculo estima que será necessário que 12,5 milhões de assinantes da Disney+ paguem para ver “Mulan”. Isso daria 375 milhões de dólares em renda só na plataforma. Hoje, a plataforma conta com 60,5 milhões de assinantes, segundo o estúdio. (Variety)
Mesmo com a pandemia longe de acabar, os cinemas nos EUA não alteram o plano de reabrir as salas, o que permitirá o lançamento de “Tenet” na mesmo mesmo fim de semana em que “Mulan” estreará na Disney+. Ou seja: a Disney, mesmo tendo consciência do plano dos cinemas, não quis remarcar a data de seu filme e preferiu apostar no PVOD, um termo que tem se tornado cada vez mais familiar. O sci-fi “Antebellum” é outro que irá direto para o streaming desse jeito, sem passar pelos cinemas (porém, sem exigir assinatura de nenhum serviço). Já “Bill & Ted: Encare a Música” terá lançamento híbrido. Se “Mulan” vingar, outros seguirão o mesmo caminho -- e a Disney certamente repetirá a dose com “Viúva Negra”, nem que seja para tirar a prova. (Formerly Dangerous, Variety)
No Brasil, a Disney+ será lançada em novembro. Até lá, se os cinemas de fato reabrirem, é bastante possível que “Mulan” seja exibido nas telonas daqui. Mas nada impedirá que o filme seja colocado na plataforma menos de dois meses depois -- e aqui estamos desconsiderando os milhares de downloads por Torrent que já terão sido feitos, como você pode imaginar…
Por falar em reabertura de cinemas, uma pesquisa da empresa britânica Gower Street Analytics, especialista em análise do mercado cinematográfico, quase metade das salas no mundo todo já voltaram a funcionar. Reino Unido, Rússia e China foram os principais países que colaboraram para a rápida retomada. Aliás, saiba como é ir ao cinema na China em tempos de pandemia. Por aqui não deverá ser muito diferente. (Variety, IndieWire)
As últimas dos festivais sob efeitos da pandemia: Sundance anunciou que sua próxima edição será mais curta, com apenas sete dias, e irá acontecer uma semana mais tarde, de 28 de janeiro a 3 de fevereiro. Já Tribeca foi adiado de maio para junho de 2021, na esperança de poder voltar a ser presencial, após o festival ter sido obrigado a acontecer online este ano. E Telluride revelou os filmes que exibiria em sua recém-cancelada edição. Estão na lista títulos como “Ammonite”, romance estrelado por Kate Winslet e Saoirse Ronan, “Charlatan”, de Agnieszka Holland, “Mainstream”, de Gia Coppola, e “Nomadland”, de Chloé Zhao. A maioria dos filmes também foi selecionada pelos festivais de Veneza e Toronto. (IndieWire, Variety)
Cá no Brasil, o INDIE será online este ano e irá acontecer de 4 a 18 de novembro. E essa não é a única novidade: pela primeira vez, o festival será competitivo. As inscrições de filmes ficam abertas até 10 de setembro. Já a Mostra de São Paulo deve ser parte online e parte presencial. Neste último caso, apenas para sessões ao ar livre ou em drive-ins. Seja como for, a tradição de ter um cartaz assinado por um artista renomado está mantida e este ano ele é Jia Zhangke, diretor de filmes como “Plataforma” e “As Montanhas Se Separam”. As datas continuam de 22 de outubro a 4 de novembro. Mais adiante no ano, de 28 de novembro a 4 de dezembro, o Cine Ceará está previsto para acontecer presencialmente em Fortaleza, mas com a programação também transmitida pelo Canal Brasil na TV e na internet.
E foi com polícia e camburão que o governo Bolsonaro assumiu o controle da Cinemateca Brasileira. Na manhã desta sexta-feira, equipes das polícias Federal e Civil bateram na porta da instituição, em São Paulo, para recolher as chaves. Houve protesto e indignação, e os ex-gestores alegam que a União tomou o controle sem mandado judicial. Vale lembrar, o contrato da Associação Roquette Pinto tem validade até 2021, embora o governo alegue que a gestão terminou no final do ano passado. Por meio de nota, o Ministério do Turismo afirmou que tem o "compromisso de resguardar a continuidade dos serviços e a segurança do patrimônio cultural preservado pela Cinemateca" e que "já viabilizou uma série de contratos que garantem a continuidade da prestação de serviços fundamentais para o trabalho desenvolvido pela instituição". Entre as garantias citadas estão contratos de prestação de serviço nas áreas de segurança, fornecimento de energia elétrica, prevenção a incêndios, climatização e refrigeração. Ou seja, é o mínimo para que pelo menos o acervo seja protegido. Há de se ficar de olho. Já sobre os salários dos funcionários, nenhuma palavra do governo. (Folha)
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“Capitã Marvel 2” terá Nia DaCosta na direção. Ela é quarta mulher contratada para dirigir um filme da Marvel e a primeira negra na função. O filme, que terá Brie Larson de volta ao papel da super-heroína, tem como roteirista Megan McDonnell, que atualmente trabalha na série “WandaVision”, protagonizada pela Feiticeira Escarlate e que será lançada na Disney+. Nia acaba de dirigir o remake/reboot de “Candyman”, produzido por Jordan Peele, com lançamento nos cinemas (ou no PVOD...) previsto para outubro. O primeiro longa dela, “Little Woods”, é estrelado por Tessa Thompson, a Valquíria de “Thor Ragnarok”, e segue inédito no Brasil até mesmo no streaming. (The Hollywood Reporter).
Perfil seguido por mais de meio milhão de cinéfilos no Twitter, o One Perfect Shot vai virar série documental produzida por ninguém menos que Ava DuVernay (“Selma”). A ideia é que cada episódio tenha cineastas renomados explorando enquadramentos icônicos de seus filmes. A descrição divulgada pela HBO Max afirma que a série usará tecnologia de ponta para permitir que os diretores literalmente caminhem dentro das cenas enquanto contam como elas foram feitas. Cada um também irá apresentar uma cena de outro cineasta que teve forte influência sobre seu trabalho. Promissor, não? Uma data de lançamento não foi divulgada. (IndieWire)
O próximo filme de Paul Thomas Anderson deverá ter Bradley Cooper no elenco principal. Ainda sem título e com o enredo sob sigilo, o longa é descrito apenas como um drama de amadurecimento (o famoso “coming of age”) ambientado nos anos 1970, em San Fernando Valley, cenário em que muitos dos filmes de PTA são ambientados. Sabe-se também que o roteiro envolve várias histórias paralelas (pense em “Boogie Nights” e “Magnólia”) girando em torno de um ator-mirim que cursa o ensino médio. Ainda não há outros nomes no elenco. A produção é da MGM. (The Hollywood Reporter)
Os bastidores das filmagens de “Chinatown” são o tema do novo filme que Ben Affleck está escrevendo e pretende dirigir. “The Big Goodbye” é baseado no livro de Sam Wasson que explora a realização do clássico filme noir dirigido por Roman Polanski e estrelado por Jack Nicholson e Faye Dunaway. O projeto é bancado pela Paramount, estúdio responsável pelo longa de 1974, indicado a 11 estatuetas no Oscar e vencedor do prêmio de Melhor Roteiro, para Robert Towne. (Variety)
Agora é oficial: um novo “Dirty Dancing” está em produção e com a estrela do filme original de 1987, Jennifer Grey. Ela também é produtora executiva do projeto desenvolvido pela Lionsgate. A direção será de Jonathan Levine (“50%”, “Meu Namorado é um Zumbi”, “Casal Improvável”). No Cinematório temos um episódio do podcast De Volta Para o Sofá sobre o clássico também estrelado por Patrick Swayze. (The Wrap)
A Lionsgate também anunciou que mais dois filmes da franquia “John Wick” estão a caminho e serão rodados ao mesmo tempo. Com Keanu Reeves reprisando o papel do famoso ex-assassino, ambos os longas estão sendo escritos atualmente, sendo que a previsão é que “John Wick 4” seja lançado em maio de 2022. Chad Stahelski estará novamente na direção. (Deadline)
Wong Kar-wai finalmente confirmou que “Blossoms Shanghai” será sua primeira produção para TV. Adaptação do romance de Jin Yucheng, a série é ambientada durante o boom econômico de Xangai dos anos 1990 e tem como personagem principal um jovem oportunista com um passado conturbado. Kar-wai é produtor de “Blossoms” e irá dirigir o primeiro episódio, com fotografia de Peter Pau, vencedor do Oscar por “O Tigre e o Dragão”. Por enquanto, não há acordo de distribuição fora da China. (Variety)
Amy Adams será a protagonista da série “Kings of America”, da Netflix. A atriz voltará a trabalhar com o diretor de “Vice”, Adam McKay, que é um dos produtores do projeto e deve dirigir o primeiro episódio. Diana Son, de “13 Reasons Why”, é a showrunner, enquanto a escritora e jornalista Jess Kimball Leslie assina o roteiro. A série contará as histórias por trás de uma batalha judicial envolvendo a rede de supermercados Walmart que resultou no maior julgamento de uma ação coletiva na história dos EUA. Recentemente, a Netflix comprou da Disney o inédito suspense “A Mulher na Janela”, estrelado por Amy e que estava previsto para ser lançado nos cinemas até a pandemia começar. (The Hollywood Reporter)
O aguardado novo filme de Charlie Kaufman teve trailer divulgado. ”I’m Thinking of Ending Things” é baseado no livro cult escrito por Iain Reid e promete ser um filme de horror sobre o fim de um relacionamento. Um filme de horror do jeito de Kaufman, vale observar. Fãs de “Quero Ser John Malkovich” (escrito por Kaufman e dirigido por Spike Jonze), “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” (escrito por Kaufman e dirigido por Michel Gondry), “Sinédoque, Nova York” e “Anomalisa” (esses dois escritos e dirigidos por Kaufman) certamente irão reconhecer o estilo do cineasta só por essas primeiras imagens. O elenco traz Jessie Buckley, Jesse Plemons, Toni Collette e David Thewlis. A estreia será em menos de um mês, 4 de setembro, na Netflix.
E tem mais uma bala na agulha da Netflix para a próxima temporada de premiações: “The Devil All the Time” traz no elenco nomes como Tom Holland, Bill Skarsgård, Riley Keough, Jason Clarke, Sebastian Stan, Haley Bennett, Mia Wasikowska e Robert Pattinson. As primeiras imagens acabam de ser divulgadas. A direção é de Antonio Campos (que é americano, mas filho de pais brasileiros, por isso o nome). São dele os premiados indies “Depois da Escola”, “Simon Assassino” e “Christine”. O roteiro é baseado no romance gótico escrito por Donald Ray Polloc. A Netflix marcou o lançamento para 16 de setembro. (The Film Stage)
Enquanto isso, a Amazon revela o trailer de “Mangrove”, o primeiro de cinco filmes dirigidos por Steve McQueen que compõem a série “Small Axe”. O projeto do diretor de “12 Anos de Escravidão” e “Shame” é o primeiro dele realizado para TV, embora “Mangrove” esteja na Seleção Oficial de Cannes e provavelmente terá exibição nos cinemas para se qualificar ao Oscar 2021. O filme conta a história verídica do Mangrove 9, um grupo de ativistas negros que foi atacado pela polícia de Londres durante um protesto ocorrido há exatamente 50 anos, em 9 de agosto de 1970. O elenco é encabeçado por Letitia Wright. Ainda não há data para a estreia no Prime Video.
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório