Brasil vai de “Babenco” para o Oscar; nos EUA, cinemas “perdem” mais uma para o streaming
Também no resumo da semana, novidades sobre: Ancine, Cinemateca Brasileira, Lynne Ramsay, Angelina Jolie, Lady Gaga, “Pantera Negra 2” e mais.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
O documentário “Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou” é o representante do Brasil na disputa por uma vaga no Oscar 2021. A escolha foi anunciada pela Academia Brasileira de Cinema na última quarta-feira (dia 18) e surpreendeu a todos. Não só porque é esta é a primeira vez que o Brasil inscreve um documentário na disputa pela estatueta de Melhor Filme Internacional (antigo Melhor Filme em Língua Estrangeira), mas também e principalmente porque havia pesos-pesados concorrendo. Filmes como “Casa de Antiguidades”, “Três Verões”, “Pacarrete”, “Sertânia” e até mesmo “Marighella” (que teve a estreia antecipada apenas para se tornar elegível) foram preteridos pela comissão.
“Babenco” remonta a vida e a obra do cineasta argentino, naturalizado brasileiro, Hector Babenco. Sua história é narrada pelo viés íntimo e pessoal da diretora e viúva de Babenco, a atriz Bárbara Paz. O filme entrará em cartaz nos cinemas no próximo dia 26 de novembro. Por onde passou, o longa ganhou elogios e prêmios. O principal deles, o de Melhor Documentário no Festival de Veneza de 2019. Irá para o Oscar também com o peso do nome de Babenco na bagagem, já que o cineasta foi indicado à estatueta de Melhor Direção por “O Beijo da Mulher Aranha”. Em sua filmografia também estão outros filmes aclamados, como “Pixote: a Lei do Mais Fraco”, “Brincando nos Campos do Senhor” e “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”. (Carta Capital)
Pois é, “Marighella” estreou em Salvador esta semana e ficará sete dias em cartaz. O motivo oficial é a homenagem à Semana da Consciência Negra, o que é uma justificativa mais do que louvável, até porque o filme estrearia originalmente em 20 de novembro de 2019. Mas a decisão de exibir o filme por uma semana em uma sala comercial (e não apenas em uma sessão única de pré-estreia, por exemplo) serve para cumprir o regulamento do Oscar de Melhor Filme Internacional.
Como o longa não foi escolhido, os distribuidores acabaram “queimando cartucho”, já que o lançamento oficial de “Marighella” só acontecerá em 14 de abril de 2021 e o filme poderia perfeitamente concorrer no ano que vem. Talvez a decisão de arriscar agora se deva à incerteza do que será dos cinemas nos próximos meses. Afinal, a pandemia está ficando ainda pior do que na chamada “primeira onda” e as salas podem ter que fechar novamente, levando a novos adiamentos.
Claro, ainda há o caminho trilhado por “Cidade de Deus” e “Bacurau” que pode levar o filme de Wagner Moura, protagonizado por Seu Jorge, a ser indicado em outras categorias no Oscar 2022. Mas isso é assunto para bem mais adiante. O que fica agora é a reação à primeira sessão de “Marighella” na capital baiana: choro, aplausos e gritos de protesto. Exatamente como se esperava. (Folha)
A Warner Bros. enfim decidiu lançar “Mulher-Maravilha 1984” no streaming. Mas não será só no streaming. Nas cidades dos EUA em que houver cinemas abertos em 25 de dezembro, o filme será exibido como planejado anteriormente. Mas no mesmo dia, a nova aventura da super-heroína poderá ser visto na plataforma HBO Max. (The Hollywood Reporter)
Nos países em que não existe HBO Max, o blockbuster dirigido por Patty Jenkins e estrelado por Gal Gadot será lançado nos cinemas. Cá no Brasil, a data de estreia foi até mesmo antecipada, de 24 para 17 de dezembro. Haverá cinemas abertos até lá? É uma dúvida que ninguém sabe responder ainda, mas já podemos perceber pelo noticiário que as infecções e mortes pela Covid-19 estão voltando a subir no país, lamentavelmente. (Revista Exibidor, Uol)
Há alguns detalhes em relação à estratégia da Warner: um deles é que, diferente de “Mulan” (que a Disney cobrou um valor para poder ser visto no Disney+ entre setembro e dezembro), “Mulher-Maravilha 1984” estará disponível para assinantes da HBO Max como qualquer outro filme do catálogo. Porém, o longa só ficará lá por 31 dias. Depois disso, ele continuará em cartaz nos cinemas e só voltará à plataforma em março, quando, aí sim, será cobrado um valor de locação premium. Portanto, o lançamento no streaming agora no Natal pode ser considerado, sim, um baita presente. (Deadline)
Nos EUA, a reação à decisão da Warner foi mista. Muitos donos de cinema ficaram desapontados, pois o filme era o único grande lançamento ainda programado para este ano. Eles poderão exibir o longa, claro, mas será que alguém irá aparecer? Já a rede AMC ficou do lado do estúdio e ainda disse que “se mantém flexível e aberta a novos modelos de negócio”. (Variety)
Claro, a AMC passou a adotar essa postura após o acordo que fechou com a Universal Pictures alguns meses atrás, através do qual receberá parte da arrecadação com filmes do estúdio lançados em Premium VOD. Acordo aliás que foi “atualizado” e agora também inclui a Cinemark. Pelos novos termos, um filme que arrecadar pelo menos 50 milhões de dólares na estreia poderá ficar 31 dias em cartaz. Menos que essa quantia, a janela cai para 17 dias e o lançamento em VOD fica liberado. (The Hollywood Reporter)
O cenário agora é este: Universal, Warner e Disney abraçaram o streaming, cada um ao seu modo. São três potências que já estão colocando as cartas na mesa e determinando como será o futuro da distribuição de filmes. “Parece que estamos no caminho de tornar a disponibilidade em casa, e não nos cinemas, a força motriz. Ou os filmes terão exibição no cinema, ou serão exibidos no streaming no mesmo dia e data -- e isso se houver exclusividade para o cinema, já que a decisão é do estúdio”, analisa Tom Brueggemann, colunista do IndieWire.
Aliás, após “Mulan” e “Soul”, a Disney já estuda o lançamento de vários de seus próximos filmes direto no Disney+. Entre eles, três novas versões live-action de suas animações clássicas: o remake de “Pinóquio” dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks, “Cruella”, baseado na vilã de “Os 101 Dalmatas” e protagonizado por Emma Stone, e “Peter e Wendy”, dirigido por David Lowery, de “Meu Amigo, o Dragão”. Ainda não há decisão final, mas o assunto está sendo discutido. E foi assim que começou com “Mulan” e “Soul”, que o estúdio dizia tratar como “casos isolados”. (Deadline)
A Ancine já pode retomar a liberação de recursos para projetos audiovisuais que estão parados para análise desde o ano passado. O Tribunal de Contas da União suspendeu os efeitos de determinações anteriores e recomendou que a Agência Nacional do Cinema não condicione a liberação de recursos à análise de todo o passivo de prestação de contas.
Com a decisão, espera-se que a fila finalmente ande. O imbróglio virou caso de justiça e o Ministério Público Federal deu cinco dias para que a Ancine cumpra o acordo, que também prevê a obrigatoriedade de analisar novos projetos. (Papo de Cinema, O Globo)
A novela da Ancine corre em paralelo com a da Cinemateca Brasileira, cujo mais novo capítulo é a instituição ficar sob controle do Ministério do Turismo. A determinação do governo federal é temporária e dura enquanto se define o contrato com uma entidade sem fins lucrativos que assumirá a gestão. E Regina Duarte, será que ainda terá um cargo por lá como Bolsonaro queria? (Folha)
O próximo filme da cineasta Lynne Ramsay será uma adaptação de um livro de Stephen King. A diretora de “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” e “Precisamos Falar Sobre Kevin” levará às telas “A Garota que Adorava Tom Gordon”, publicado em 1999.
A história acompanha a menina Trisha McFarland, de 12 anos, que se perde da mãe e do irmão enquanto faziam uma trilha. Sozinha por dias na floresta, com apenas seu rádio portátil como companhia, ela fantasia que será salva por seu ídolo do beisebol, Tom Gordon, ao mesmo tempo em que algo muito perigoso pode estar em seu encalço.
A própria Ramsay assina o roteiro da adaptação. O elenco deve ser escalado em breve e as filmagens devem acontecer em 2021. (Heat Vision)
Angelina Jolie definiu seu próximo filme na direção: “Unreasonable Behavior”, cinebiografia sobre o fotógrafo de guerra britânico Don McCullin, baseado em seu aclamado livro de memórias de mesmo nome.
O roteirista indicado ao BAFTA Gregory Burke (“71: Esquecido em Belfast”) está escrevendo o roteiro. O filme será um relato da vida de McCullin, retratando a origem pobre em Londres e o trabalho que exerceu fotografando algumas das zonas de guerra mais perigosas do mundo.
É mais um projeto de Jolie que trata de personagens envolvidos com a guerra. Porém, esse parece estar mais próximo de “Invencível” do que de “Na Terra de Amor e Ódio” e "Primeiro, Mataram o Meu Pai". E “Invencível” definitivamente não é dos melhores filmes que ela fez.
O novo longa tem o ator Tom Hardy entre os produtores, mas aparentemente ele não está ligado ao papel principal. Ainda não há previsão para o início das filmagens. (Variety)
Lady Gaga é a mais recente adição ao já estelar elenco do filme de ação “Bullet Train”. A vencedora do Oscar por “Nasce uma Estrela” irá contracenar com Brad Pitt, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson, Andrew Koji, Joey King, Brian Tyree Henry, Zazie Beetz e Masi Oka.
David Leitch (“Deadpool 2”) está na direção e o roteiro escrito por Zak Olkewicz é baseado no livro “Maria Beetle”, de Isaka Kotaro. A trama acompanha um grupo de assassinos rivais a bordo de um trem em alta velocidade.
Gaga fará “Bullet Train” antes de “Gucci”, o ambicioso projeto de Ridley Scott sobre o escândalo na família Gucci envolvendo o assassinato de Maurizio Gucci a mando da ex-mulher, papel da atriz. O elenco também conta com Adam Driver, Robert De Niro e Al Pacino. (Collider)
As filmagens de “Pantera Negra 2” começam em julho de 2021. Havia dúvidas se a Marvel atrasaria o início da produção devido à morte de Chadwick Boseman, mas parece que o estúdio superou o luto e encontrou uma maneira de fazer o filme sem seu ator principal.
O uso de uma “versão CGI” de Boseman foi descartado recentemente pela própria Marvel. Haverá um substituto, então? Ou o roteiro foi modificado para que outra pessoa de Wakanda assuma o protagonismo? Seria essa pessoa Shuri, personagem de Letitia Wright? Ou será que teremos um filme sobre as guerreiras de Wakanda? E o título, será alterado?
Estou só especulando, é claro. Se as filmagens terão início em julho, a Marvel deverá revelar seu plano muito em breve. Além da data, outra novidade do projeto é que o ator Tenoch Huerta (“Narcos: México”) está em negociações para interpretar um dos vilões. (Heat Vision, Metropoles)
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Capturas da nossa Parabólica
— O rapper Emicida, que ganhou o Grammy Latino esta semana, teve divulgado o trailer do documentário “AmarElo - É Tudo Pra Ontem”; inspirado no álbum de mesmo nome do artista, o filme estreia na Netflix em 8 de dezembro. (Mundo Negro)
— Spike Lee prepara um musical sobre a invenção do Viagra; o projeto inusitado é baseado em um artigo da revista Esquire e as canções originais serão escritas por Stew, artista com quem Lee trabalhou em “Passing Strange”, vencedor do Tony de 2008. (Folha - F5)
— “Um Príncipe em Nova York 2” será lançado no serviço Amazon Prime Video em 5 de março de 2021, inclusive no Brasil; a continuação da comédia protagonizada por Eddie Murphy estrearia nos cinemas agora em dezembro, mas devido à pandemia acabou sendo negociada pela Paramount para o streaming. (The Hollywood Reporter)
— Alicia Vikander deve estrelar uma série baseada em “Disque M Para Matar”, um dos suspenses mais populares de Alfred Hitchcock, adaptado da peça de Frederick Knott; a atriz de “Ex Machina” também será uma das produtoras executivas da série, enquanto o roteiro ficará por conta de Terence Winter, de “Boardwalk Empire”. (The Live Feed)
— Sylvester Stallone está no elenco da continuação de “Esquadrão Suicida”; seu personagem não foi revelado, mas será apenas uma participação especial, assim como ele fez em “Guardiões da Galáxia 2”, também dirigido por James Gunn. (The Playlist)
— O diretor Steven Caple Jr. deve ser o responsável por reformular a franquia “Transformers”; ele, que é negro e dirigiu “Creed 2”, é a principal escolha da Paramount para o projeto, que tem roteiro assinado por Joby Harold, de “Rei Arthur: A Lenda da Espada”. (Deadline)
— Após o sucesso de “Predadores Assassinos”, Alejandro Aja deve dirigir o horror “Elijah”; o próprio cineasta reescreveu o primeiro tratamento do roteiro que conta a história de um garoto que tenta salvar a mãe da morte pedindo ajuda a um estranho que não é quem o menino imaginava ser. (Deadline)
— As filmagens de “Pânico 5” terminaram e o filme ganhou um título oficial: apenas “Pânico”; com Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette de volta, a continuação dirigida por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (“Casamento Sangrento”) chegará aos cinemas em 13 de janeiro de 2022. (Twitter de Kevin Williamson)
In Memoriam
O cinema brasileiro perdeu Antônio Leão, colecionador, cineclubista, pesquisador e biógrafo, autor de dicionários essenciais do nosso audiovisual. Ele estava com 63 anos e lutava contra um câncer, batalha que se agravou com a Covid-19. Autor de quase uma dezena de livros, Antônio era também economista, mas sua vida era movida pelo amor ao nosso cinema. Na entrevista que gravamos com ele, quando foi homenageado em 2017 pela CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto, Antônio contou como ajudou a resgatar o primeiro longa dirigido por Carlão Reichenbach e a restaurar “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha. Ele também nos falou sobre como funciona a busca por filmes brasileiros perdidos e comentou as dificuldades que o cinema nacional enfrenta no resguardo da sua própria história. Ouça aqui.
Também perdemos esta semana o ator francês Michel Robin, aos 90 anos, outra vítima da Covid-19. Robin, que iniciou no teatro e fazia parte da Comédie-Française, tem entre seus filmes mais conhecidos “A Confissão” e “ Um Homem, uma Mulher, uma Noite”, ambos dirigidos por Costa-Gravas nos anos 1970. Outro trabalho dele muito lembrado é como o Sr. Collingon em “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, de Jean-Pierre Jeunet.
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório