Cinemas em apuros enquanto Disney assume foco no streaming
Semana também teve novos filmes de Godard, Park Chan-wook e Ava DuVernay, mais remakes de Hitchcock e Kurosawa, além de Joaquin Phoenix como Napoleão e Gal Gadot como Cleópatra.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
Depois de Roma, a França: Joaquin Phoenix e Ridley Scott voltarão a trabalhar juntos em épico histórico, agora sobre Napoleão. Foto: “Gladiador” (2000, Universal Pictures).
Um terço dos cinemas do Brasil já voltou a funcionar durante a pandemia. São 282 complexos e 990 telas, número que ganhou corpo com a volta das salas paulistas na semana passada. Só lá, mais da metade do parque exibidor retomou o funcionamento. Em Belo Horizonte, de onde escrevo, a reabertura está prevista até o fim de outubro. E quem estrategicamente estreia no próximo dia 29? Ele mesmo: “Tenet”. (Filme B)
Em janeiro, a Disney lança a animação da Pixar “Soul” nos cinemas brasileiros, um movimento importante que parece ter sido acordado entre o estúdio e as redes que operam no país, já que aqui os cinemas reabriram mais tarde que no resto do mundo. Se na Europa e EUA a decisão de levar o filme fez gente arrancar os cabelos, imagine aqui? Porém, é mesmo o streaming o foco do rato a partir de agora. Bob Chapek, atual CEO da Disney, disse recentemente que vai concentrar suas estratégias na entrega e na monetização dos conteúdos em todas as plataformas da empresa, que são Disney+, Hulu, ESPN+ e o ainda inédito Star. Mesmo sem apresentar números concretos, Chapek citou como motivação o “incrível sucesso” da Disney+, que teria sido impulsionado pelo lançamento de “Mulan” em setembro. (Filme B, IndieWire)
Você lembra que eu já comentei aqui sobre isso, né? E parece que a profecia se concretiza: Disney afirma que “Mulan” foi um sucesso, o mercado tem que acreditar e o estúdio cria com isso a justificativa para levar seus filmes cada vez mais para o streaming. O que se desenha é que apenas filmes da Marvel e de Star Wars (e possivelmente nem todos eles, apenas os filmes-evento) chegarão à telona. Com isso, as redes de cinema terão que contar com outros estúdios para se manterem atrativas para o grande público. Pode ser que a Warner aproveite o momento, mas isso se ela não decidir que a HBO Max é o veículo mais viável para suas produções, apesar de o serviço não ter o mesmo apelo de Disney e Netflix -- ainda. A resposta do público será determinante, claro. Se ao fim de 2021 “tudo voltar ao normal”, a própria Disney deverá rever seu plano e reconsiderar os cinemas se perceber que eles voltaram a ser rentáveis. Como eu também já disse aqui em outra ocasião, não é com a arte e com “a experiência da sala de cinema” que esse pessoal está preocupado. Já dizia Roger Waters: “dinheiro, é um gás”.
Mudando completamente de assunto, animem-se fãs de Jean-Luc Godard, pois vem filme novo aí. E é filme mesmo, em película. Ao que parece, Godard está procurando por câmeras e lentes específicas para o projeto que ainda não tem título ou qualquer outro detalhe divulgado. A última vez que Godard filmou em película foi em 2004. Desde então, ele vem se mostrando um entusiasta das experimentações com a tecnologia digital. O mais recente filme do cineasta é “Imagem e Palavra”, lançado em 2018 e ainda disponível na Netflix. (Twitter, via MUBI)
Park Chan-wook prepara um filme de mistério e romance intitulado “Decision to Leave”. O diretor de “Old Boy” escalou Tang Wei (“Desejo e Perigo”) e Park Hae-il (“O Hospedeiro”) para os papéis principais. É a história de um policial que investiga um assassinato e suspeita que a esposa do homem morto cometeu o crime. O último filme do diretor sul-coreano foi “A Criada” (2016). Depois disso, ele trabalhou na série The “The Little Drummer Girl”, inédita no Brasil. (Deadline)
“Bacurau” foi o grande vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2020. Dirigido por Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o longa ganhou seis Troféus Grande Otelo: Melhor Longa-Metragem de Ficção, Melhor Efeito Visual, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem Ficção, Melhor Direção e Melhor Ator. “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, também fez bonito e ficou com apenas um prêmio a menos que “Bacurau”. Ganhou: Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Direção de Fotografia. A cerimônia remota foi transmitida ao vivo pela TV Cultura no último domingo, mas contou apenas com depoimentos previamente gravados dos vencedores. Eles agradeciam não o prêmio, mas a indicação, algo que muitas vezes soou estranho. (Cineweb)
Já o 9º Olhar de Cinema teve como grande vencedor “Luz nos Trópicos”, de Paula Gaitán. O filme foi eleito o melhor da competição internacional. Já o público preferiu “A Metamorfose dos Pássaros”, de Catarina Vasconcelos. “Pajeú”, de Pedro Diógenes, foi eleito o melhor longa brasileiro. Confira todos os premiados no Cinematório e a cobertura feita pela Kel Gomes.
Até alguns anos atrás, ninguém falaria de Adam McKay como um dos principais diretores de Hollywood. Afinal, ele era conhecido por comédias como “O Âncora”, “Quase Irmãos” e “Os Outros Caras”. Não que ele tenha se tornado um diretor de dramas, mas o Oscar mudou tudo. Após as indicações de “A Grande Aposta” e “Vice”, McCay só atrai grandes nomes para seus projetos. O próximo filme, “Don’t Look Up”, já contava com Jennifer Lawrence. Agora, a atriz tem a companhia estelar de Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Jonah Hill, Himesh Patel, Timothee Chalamet, Ariana Grande e Matthew Perry. Produzido por Netflix e Paramount, o longa contará a história de dois astrônomos que decidem alertar a humanidade sobre um asteroide que se aproxima da Terra com potencial para destruir o planeta. O próprio McCay escreveu o roteiro. Podemos esperar por uma sátira no mesmo tom de seus dois últimos filmes. O lançamento só deve acontecer em 2022. (Deadline)
O próximo filme da cineasta Ava DuVernay também será na Netflix. Após colaborar com a plataforma em “A 13ª Emenda” e “Olhos que Condenam”, ela irá escrever, dirigir e produzir uma adaptação em longa-metragem do livro “Caste: The Origins of Our Discontent”, da vencedora do Prêmio Pulitzer Isabel Wilkerson. Com uma estrutura de várias histórias conectadas, o filme promete fazer um amplo retrospecto da construção da sociedade americana e a luta de classes através da gerações. Ainda não há data para o início das filmagens. Ava atualmente trabalha no thriller de ação “DMZ”, com Rosario Dawson, para a HBO Max. (Variety)
E a Netflix apresenta em novembro mais um filme com potencial para conseguir indicações no Oscar 2021. “Era uma Vez um Sonho” (no original, “Hillbilly Elegy”) é dirigido por Ron Howard, um queridinho da Academia, e traz no elenco duas atrizes que volta e meia concorrem à estatueta: Amy Adams e Glenn Close. Elas interpretam mãe e avó, respectivamente, do protagonista: um ex-fuzileiro naval (Gabriel Basso, de “Super 8”) que se vê forçado a voltar para sua cidade natal para resolver uma crise familiar. O drama é baseado no livro autobiográfico de J.D. Vance e também traz no elenco Haley Bennett e Freida Pinto. A estreia será em 24 de novembro. Veja o trailer.
Depois da bem-sucedida parceria nos dois filmes da Mulher Maravilha, Gal Gadot e Patty Jenkins voltarão a trabalhar juntas em “Cleópatra”, novo drama histórico sobre a lendária rainha do Egito. A Paramount está por trás do projeto que terá Gadot no icônico papel imortalizado por Elizabeth Taylor no clássico de 1963. Laeta Kalogridis (“Ilha do Medo”) está escrevendo o roteiro que Jenkins irá dirigir. A Sony também tentou fazer um filme sobre Cleópatra alguns anos atrás. Angelina Jolie e Lady Gaga chegaram a ser escaladas no papel principal, mas o projeto foi engavetado. Fãs de Gadot e Jenkins gostaram da notícia, mas, claro, já surgiu o questionamento: por que não escalar uma atriz africana para o papel? (Variety, Folha)
Joaquin Phoenix será Napoleão Bonaparte no filme que Ridley Scott está desenvolvendo sobre o imperador francês. “Kitbag” é descrito como “um olhar original e pessoal sobre as origens de Napoleão e sua rápida e implacável escalada ao poder”. No centro da trama está a relação dele com a esposa, Josephine, papel ainda não escalado. O projeto está na fila para sair do papel, já que Scott ainda trabalha para finalizar o épico “The Last Duel” e já tem agenda definida para filmar o thriller “Gucci” em seguida, dirigindo nomes como Lady Gaga, Robert De Niro, Al Pacino, Adam Driver e Jared Leto. Vale lembrar que Phoenix viveu o imperador romano Cômodo em “Gladiador”, dirigido por Scott 20 anos atrás. (Deadline)
Uma animação de estilo afro-futurista sobre um jovem Tutancâmon será dirigida por Matthew Cherry, cineasta negro vencedor do Oscar de Melhor Curta Animado em 2019 por “Hair Love” (disponível no YouTube). Intitulado “Tut”, o filme será ambientado no Egito Antigo e mostrará como várias convenções e tecnologias modernas foram criadas pela cultura daquela época. Cherry é autor do argumento ao lado de Monica A. Young. Paralelo ao longa, o diretor trabalha em uma série de animação inspirada em “Hair Love” que será exibida pela HBO Max. (Variety)
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Um filme sobre a detonação da bomba atômica sobre Hiroshima está sendo desenvolvido pelo diretor Cary Fukunaga, responsável pela primeira temporada de “True Detective” e do ainda inédito “007 - Sem Tempo Para Morrer”. O roteiro será escrito pelo vencedor do Oscar Tom Stoppard (“Império do Sol”, “Brazil - O Filme”). O projeto é baseado no livro não ficcional de Stephen Walker, que faz uma recapitulação histórica das três semanas que antecederam o ataque nuclear em agosto de 1945. A trama do filme deverá acompanhar vários personagens envolvidos na tragédia, desde cientistas, militares e governantes dos EUA até as vítimas japonesas que tiveram suas vidas destruídas. A produção é da Universal Pictures. (The Wall Street Journal)
George Clooney deve dirigir uma adaptação de “Calico Joe”, livro de John Grisham (“A Firma”, “O Homem que Fazia Chover”), sobre um jogador de baseball que encerrou a carreira tragicamente. A história verídica é baseada na vida de Ray Chapman, que em 1920 sofreu um acidente durante uma partida e ficou em coma por três décadas. Clooney irá produzir o longa ao lado de seu frequente colaborador Grant Heslov. Ainda não há previsão para as filmagens. Atualmente, Clooney está finalizando o drama de ficção científica “The Midnight Sky”, que deve ser lançado pela Netflix ainda este ano. (Variety)
Após meses de rumores, George Miller confirmou que “Furiosa”, prequel de “Mad Max: Estrada da Fúria”, será seu próximo filme. E mais: o cineasta já tem três de seus principais atores definidos. Anya Taylor-Joy (“A Bruxa”) será a versão mais jovem da personagem de Charlize Theron. Ao lado dela estarão Chris Hemsworth (“Thor”) e Yahya Abdul -Mateen II (“Aquaman”). Os detalhes da história não foram divulgados, mas o filme deverá mostrar a origem de Furiosa e como ela se tornou uma guerreira sob o comando de Immortan Joe. As filmagens devem acontecer em 2021, na Austrália. (Heat Vision)
Kate Winslet será a protagonista de “Fake!”, próximo filme do diretor e roteirista Scott Z. Burns (“O Relatório”). A atriz fará o papel de Jen McAdam, uma mulher que se envolveu com uma empresa que operava um infame esquema de pirâmide financeira. O golpe chegou a provocar um prejuízo de 4 bilhões de dólares e fez vítimas no mundo inteiro. A própria McAdam escreveu sua história em livro, que será usado como base para o roteiro. (Deadline)
Simultaneamente ao lançamento de sua nova versão de “Rebecca, a Mulher Inesquecível, a Netflix anunciou que está produzindo mais uma refilmagem de um clássico de Alfred Hitchcock. Ou, como o estúdio gosta de dizer, uma “nova adaptação” de um livro que inspirou o Mestre do Suspense. A próxima vítima é “Pacto Sinistro” (1951), cujo roteiro é baseado no romance escrito por Patricia Highsmith. Desta vez, o remake deverá se distanciar bastante do original. A ideia da Netflix é fazer uma versão adolescente e contemporânea do suspense, colocando duas colegas de escola que decidem se unir durante uma viagem para se vingarem dos bullies que as atormentam. O roteiro está sendo escrito por Jennifer Kaytin Robinson (“Alguém Especial”). (Variety)
Também tem clássico de Akira Kurosawa ganhando refilmagem e desta vez é “Viver” (1952). O veterano ator britânico Bill Nighy será o protagonista. A nova versão seguirá William, um veterano funcionário público do governo londrino. Enquanto uma papelada interminável se acumula em sua mesa, ele descobre que tem uma doença fatal. E assim começa sua busca para encontrar algum significado para sua vida aparentemente monótona. O roteiro está sendo escrito por Kazuo Ishiguro (“Vestígios do Dia”) e a direção será de Oliver Hermanus (“Shirley Adams”). (The Hollywood Reporter)
A Amazon anunciou a produção de uma série baseada na franquia de horror “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”. A ideia é usar a mesma premissa do filme de 1997 e do livro de 1973 no qual o roteiro do longa é baseado, mas trazendo a história para os dias atuais. Sara Goodman (das séries “Preacher” e “Gossip Girl”) está escrevendo o roteiro. O filme original tem direção de Jim Gillespie e é estrelado por Jennifer Love Hewitt, Sarah Michelle Gellar, Ryan Phillippe e Freddie Prinze Jr. Quem sabe eles não façam participações especiais? (Live Feed)
E o canal Showtime encomendou um revival da série “Dexter”. O drama de serial killer terá o retorno do astro Michael C. Hall, protagonista de oito temporadas. Dez episódios serão filmados, com a produção programada para começar no início do próximo ano. A estreia está prevista para meados do segundo semestre. O ex-showrunner da série Clyde Phillips também está de volta, mas os detalhes da trama não foram divulgados. (Variety)
E não é só de “Mandalorian” que os fãs de “Star Wars” viverão nos próximos meses. A Disney+ também exibirá um especial de fim de ano produzido pela LEGO. O cartaz (abaixo) já estabelece o tom satírico (e sarcástico) da produção, seguindo o estilo dos próprios filmes da LEGO e dos games da empresa baseados em “Star Wars”. Personagens novos e clássicos deverão se encontrar e alguns dos atores que os interpretaram no cinema estarão de volta, como Kelly Marie Tran (Rose Tico), Billy Dee Williams (Lando Calrissian) e Anthony Daniels (C-3PO). De acordo com o anúncio, a ideia é ao mesmo tempo reimaginar o clássico e infame especial de 1978 e ao mesmo tempo dar continuidade à história da nova trilogia. A direção é de Ken Cunningham (“Lego Jurassic World: Legend of Isla Nublar”), com roteiro de David Shayne (“Lego Star Wars: All-Stars”). A estreia será em 17 de novembro, exatamente a data em que a Disney+ chega ao Brasil.
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório