Indústria do cinema continua refém da pandemia
Telluride é cancelado, enquanto Festival de Gramado será online e na TV. China reabre cinemas, mas regras barram estreia de "Tenet". Enquanto isso, Netflix segue reinando em Hollywood.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
Pedro Almodóvar e Tilda Swinton registram início das filmagens de “La Voz Humana”. Mais informações sobre o projeto, no decorrer da newsletter. Foto: Augustín Almodóvar.
Enquanto a pandemia de Covid-19 persiste, mais festivais de cinema se veem obrigados a mudar seus planos -- e aqueles que acreditavam que seria possível realizar suas edições normalmente no segundo semestre decidiram jogar a toalha. O maior baque foi sentido por Telluride. No final de maio, noticiei aqui que os organizadores haviam confirmado a realização da edição presencial para setembro. Agora, nem edição online haverá: o festival está cancelado. O evento é um dos locais prediletos dos estúdios para exibir filmes com pretensão de Oscar. Há a expectativa de que os curadores divulguem uma seleção oficial, como fez Cannes, a fim de garantir divulgação para os títulos. Mas com o Oscar adiado para abril, é díficil imaginar que uma seleção de Telluride surta o mesmo efeito de anos anteriores. Afinal, o festival não tem o mesmo apelo de Cannes. Talvez dentro da indústria faça mais sentido. (IndieWire)
Tulluride fica nos EUA, país que tem batido lamentáveis recordes diários de casos de Covid-19. É realmente inviável pensar em eventos como um festival de cinema acontecendo por lá pelos próximos meses. Diferente da Europa, onde festivais como os de Veneza e San Sebastián não se sentem ameaçados. Cá no Brasil, onde a pandemia segue ceifando mais de mil vidas diariamente, também tivemos mudanças. O Festival de Gramado decidiu suspender as sessões presenciais e exibirá os filmes das mostras competitivas no Canal Brasil. É uma saída interessante e inédita: primeiro, os títulos irão passar na TV, depois ficarão disponíveis por 24h para streaming no Canal Brasil Play. Se pensarmos que Gramado é o festival mais elitista do país, pelo menos este ano estará mais acessível. Resta saber com quais filmes, já que certamente há realizadores segurando novos trabalhos para o pós-pandemia.
Cá nas Gerais, a Mostra CineBH seguiu os passos da CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto e será realizada online e em nova data: 29 de outubro a 2 de novembro. Cabe notar: essas datas batem com o calendário da Mostra de São Paulo. O evento paulista continua marcado para 22 de outubro a 4 de novembro. Haverá mudança? Será online? Aguardamos.
Embora em Hong Kong já esteja em curso uma terceira onda de infecções pelo novo coronavírus, a China começa a reabrir (novamente) salas de cinema a partir desta segunda-feira, 20 de julho, mas apenas em regiões de baixo risco de contaminação. As salas deverão operar com apenas 30% da capacidade e seguir os protocolos de segurança sanitária. As bombonieres ficarão fechadas e também será proibido levar comidas e bebidas. Além disso, o número de sessões diárias será reduzido e o mais interessante: somente será permitido exibir filmes com até duas horas de duração, para evitar um período maior de permanência do público em ambiente fechado.
Sabe quem será diretamente afetado por essa última medida? Christopher Nolan. Ao que consta, “Tenet” tem duas horas e meia de duração, o que impediria o lançamento do filme na China, hoje um dos mercados mais rentáveis para Hollywood. Nem o cineasta, nem a Warner Bros. se manifestaram até o momento, até porque a estreia nos cinemas chineses não foi marcada. Mas é difícil imaginar que Nolan irá cortar 30 minutos do filme voluntariamente. Já a Disney não terá problemas, pois “Mulan” tem 115 minutos. Esta deverá ser a primeira grande estreia por lá, já que somente filmes pré-pandemia estarão em cartaz no início da reabertura. (Variety, IndieWire)
O Festival de Cannes anunciou os filmes do seu programa Cannes Classics para 2020. Como o festival foi cancelado, os títulos selecionados serão exibidos posteriormente em outros eventos e em salas de cinema comerciais. Também haverá lançamento em DVD, Blu-ray e streaming. São ao todo 25 clássicos que receberam ajuda do festival para serem restaurados e distribuídos, podendo assim chegar a novas gerações de cinéfilos, além de poderem ser revisitados por quem já os conhece. Estão na seleção filmes como “Amor à Flor da Pele”, de Wong Kar-Wai, “Accattone”, de Pier Paolo Pasolini, “La Strada”, de Federico Fellini, e “A Aventura”, de Michelangelo Antonioni. Veja a lista completa.
No programa Cannes Classics, também há espaço para a estreia de novos documentários sobre a história do cinema. E este ano tem filme brasileiro: “Antena da Raça”, de Paloma Rocha e Luís Abramo, resgata o programa “Abertura”, de Glauber Rocha, para contrapor o país em que vivemos hoje com o Brasil de 1979, quando o diretor revolucionou a TV brasileira. (Metrópoles)
Aumentou discretamente o número de produções hollywoodianas com personagens LGBT+: de 18,2%, em 2018, para 18,6%, no ano passado. Por outro lado, diminuiu o percentual de tempo de tela para gays, lésbicas ou transexuais, sendo que a queda é ainda mais acentuada se considerada a etnia das personagens. O levantamento é da GLAAD (Aliança de Gays e Lésbicas Contra a Difamação, na tradução da sigla). Veja os dados completos da pesquisa no Papo de Cinema.
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Vamos para a nossa habitual rodada de notícias sobre novos projetos.
A diretora Gina Prince-Bythewood, de “The Old Guard”, irá comandar o épico de ação “The Woman King”, protagonizado por Viola Davis.Segundo a Variety, trama se passa na África, entre os séculos 18 e 19, e acompanha uma general e sua filha na guerra contra colonos franceses que querem escravizar o povo do Reino do Daomé (atualmente, Benim). Nada como mudar o ponto de vista, não? Excelente notícia e na semana em que “The Old Guard” se tornou um dos filmes originais da Netflix mais vistos entre todas as produções da plataforma. A expectativa é que ele seja visto por 72 milhões de assinantes nas primeiras quatro semanas, segundo a Netflix. Fica o convite para ver nossa análise do filme na Central Cinematório, no YouTube.
Chris Evans e Ryan Gosling estarão no filme mais caro da Netflix até aqui. Trata-se do thriller de espionagem “The Grey Man”, que está orçado em 200 milhões de dólares. Além de dois astros na frente das câmeras, haverá outros dois na direção: os irmãos Anthony e Joe Russo, de “Vingadores: Guerra Infinita” e “Vingadores: Ultimato”. O roteiro é baseado no livro de Mark Greaney, lançado em 2009. Gosling será um ex-agente da CIA que se tornou matador de aluguel e é perseguido por um antigo colega, personagem de Evans. Os Russo querem, claro, dar início a uma franquia. (Deadline)
Com máscara e escudo facial, Pedro Almodóvar e Tilda Swinton posaram para foto no primeiro dia de filmagem do novo projeto do diretor espanhol, o curta “La Voz Humana”. Rodado em um set em Madri, o filme é baseado numa peça homônima de Jean Cocteau que foi de forte influência para Almodóvar realizar “A Lei do Desejo” e “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”. É a primeira produção do cineasta em inglês. (Cineweb)
A diretora Marjane Satrapi (“Persépolis”) divulgou o trailer de seu novo filme, “Radioactive”. A atriz Rosamund Pike é a protagonista, interpretando Marie Curie, a física e química francesa famosa por conduzir pesquisas sobre radioatividade. Ela foi a primeira mulher a ganhar o Nobel e até hoje é a única a receber o prêmio duas vezes. O longa é centrado no período em que ela alcançou o auge de sua pesquisa. O filme também traz Sam Riley (“Control”) e Anya Taylor-Joy (“A Bruxa”) no elenco e será lançado na Amazon Prime Video ainda em julho.
Um reboot da clássica comédia policial “Assassinato por Encomenda” está em andamento, com Jon Hamm no papel do repórter investigativo interpretado originalmente por Chevy Chase. O filme de 1985 foi um grande sucesso e ganhou continuação em 1989, “Fletch Vive”, também com direção de Michael Ritchie. Um recomeço para a franquia vem sendo trabalhado em Hollywood desde o final dos anos 90, mas sempre falhava em sair do papel. Agora, com os anos 80 mais em alta do que nunca, parece que o filme finalmente será feito. Greg Mottola (“Superbad”) será o diretor. (Variety)
Um dos destaques de “Star Wars: Os Último Jedi”, Kelly Marie Tran entrou para o elenco da série “Monsterland”, da Hulu. Baseada na obra de Nathan Ballingrud, a produção da Annapurna é ambientada em um mundo habitado por criaturas fantásticas e cada episódio acompanha um personagem que tenta recomeçar sua vida após passar por algum evento traumático. Kelly será a protagonista de uma dessas histórias, sobre uma jovem que perdeu a melhor amiga na adolescência e retorna para sua cidade natal para se casar. O cineasta Babak Anvari (“Sob a Sombra”, “Contato Visceral”, ambos da Netflix) é um dos produtores de “Monsterland”. (Live Feed)
A Netflix adquiriu os direitos de distribuição internacional do novo filme do Bob Esponja -- que a Paramount iria lançar nos cinemas, mas acabou optando por uma estreia direto no streaming, devido aos sucessivos adiamentos por conta da pandemia. O acordo inclui o Brasil e só não contempla China e Canadá. O longa híbrido de animação e live-action deverá ser disponibilizado pela Netflix nos primeiros meses de 2021, mas só depois que a Paramount fizer seu próprio lançamento nos EUA através do serviço CBS All Access. (Variety)
A Netflix também comprou os direitos de “Apollo 10 ½”, animação dirigida por Richard Linklater. Trata-se de uma aventura espacial situada em 1969, na época do lançamento da missão Apollo 11, e inspirada pela infância do diretor de “Boyhood”, “Jovens, Loucos e Rebeldes” e “Antes do Amanhecer”, entre outros filmes aclamados. Linklater já dirigiu duas animações com rotoscopia (“Waking Life” e “O Homem Duplo”), mas aqui trabalhou com CGI e animação feita à mão, misturados com elementos live-action. Jack Black, que já colaborou com o diretor em “Escola de Rock”, está no elenco. Parte do filme foi feita antes da pandemia, mas ainda não há data prevista para o lançamento. (IndieWire)
In Memoriam: Morreu a atriz Kelly Preston, aos 57 anos. Ela lutava contra um câncer de mama. Esposa do ator John Travolta, Kelly atuou em filmes como "Jerry Maguire", "Irmãos Gêmeos", "Christine", "A Lente do Amor", "Admiradora Secreta", “A Primeira Transa de Jonathan”, entre outros que fizeram sucesso anos 80 e 90. Seu último trabalho foi ao lado do marido, no drama de máfia “Gotti”.
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório