Oscar: reforma ou verniz?
Academia anuncia novas regras para tornar Oscar mais inclusivo, mas mudanças ainda deixam a desejar. Mulheres, no entanto, podem tornar premiação histórica já em 2021.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
Frances McDormand em “Nomadland”: aclamado no Festival de Veneza, filme da diretora Chloé Zhao se torna aposta forte para o próximo Oscar. Foto: Searchlight Pictures/Divulgação.
A partir do Oscar 2024, a Academia exigirá que os filmes inscritos na premiação cumpram requisitos mínimos de representação e inclusão para serem elegíveis à estatueta de Melhor Filme. Segundo a entidade, os novos critérios são inspirados pelos Padrões de Diversidade do British Film Institute, que usa tais diretrizes para determinar não só quais produções são elegíveis para concorrer ao BAFTA, mas também para receber financiamento. Ficou assim: um filme terá que atender a pelo menos dois dos quatro “padrões de inclusão” da Academia. Isso inclui ter pelo menos um personagem principal ou coadjuvante de um grupo racial ou étnico sub-representado, e pelo menos 30% de todos os atores em papéis secundários ou menores deverão pertencer a dois grupos sub-representados. O período de adaptação começa já no ano que vem: um formulário de Padrões de Inclusão terá de ser preenchido e entregue à Academia para que um filme seja considerado para o Oscar 2022 e o Oscar 2023. As novas regras terão efeito total a partir da edição seguinte da premiação. (El País)
Parece promissor, não? Mas já há contestações -- e elas são justas. Isso porque, em uma análise mais estrita, verifica-se que vários filmes indicados e premiados pela Academia em anos recentes passariam com facilidade pelas novas regras, mesmo sendo filmes dirigidos por homens brancos e heterossexuais, tendo pouquíssima diversidade no elenco. As “brechas” incluem, por exemplo, a contratação de pessoas incluídas nos grupos minoritários para trabalhar em campanha de marketing, por exemplo. Ou se houver uma única mulher na equipe de produtores. Como a Academia requer que os filmes cumpram apenas duas das quatro exigências, “Dunkirk”, por exemplo, não teria problema nenhum em ser indicado. Na verdade, um levantamento mostra que nada menos 71 dos 100 filmes mais lucrativos de 2019 cumpririam duas das quatro regras e poderiam ser inscritos no Oscar caso o novo regulamento já estivesse valendo. Portanto, que mudança a Academia quer promover se a maioria das produções já atende o que ela pede? Não deveria haver ainda mais rigor, então? (MovieMaker, Variety)
Mas pode ser que o Oscar 2021 já tenha novidades nas indicações, com mais filmes dirigidos por mulheres concorrendo. E não é por causa de mudanças nas regras da Academia, mas sim porque as cineastas estão de fato com vários trabalhos dignos de prêmios. Em Veneza, Chloé Zhao* despontou nesta semana como forte candidata após exibir seu terceiro longa, “Nomadland”, drama de estrada protagonizado por Francis McDormand. Caso seja indicada à estatueta de Melhor Direção, ela será a primeira mulher asiática a conquistar tal feito. Zhao é chinesa e dirigiu antes os também aclamados “Domando o Destino” e “Songs My Brothers Taught Me”. E o próximo trabalho dela é nada menos que “Eternos”, da Marvel. Outra que também chamou a atenção em Veneza foi a atriz Regina King, que estreia na direção com “One Night in Miami”. Se for indicada, ela também fará história, sendo a primeira mulher negra indicada como diretora. (Variety, IndieWire)
*ATUALIZAÇÃO: Chlóe Zhao ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza com “Nomadland”. Os prêmios foram anunciados neste sábado à tarde.
E há pelo menos outras duas cineastas cotadas desde o início do ano para o Oscar: Kelly Reichardt com “First Cow” e Eliza Hittman com “Never Rarely Sometimes Always”. E há Sofia Coppola com “On the Rocks”, nunca uma carta fora do baralho. Enfim, opções não faltam (nunca faltaram) para a Academia e as chances são boas de termos um Oscar histórico com mais de uma mulher concorrendo ao prêmio de Melhor Direção.
A Warner decidiu adiar “Mulher Maravilha 1984” para o Natal. “Duna” (também da Warner) continua agendado para duas semanas antes em dezembro, mas o estúdio admite que pode adiar a ficção científica para 2021. O motivo da nova data de “Mulher Maravilha” é que cinemas de Nova York, Los Angeles e San Francisco ainda não estarão aptos a reabrir em outubro, data até então pretendida para o filme da super-heroína. Há uma grande expectativa em torno do longa para chamar as pessoas de volta aos cinemas, após o desempenho moderado de “Tenet” (que a Warner acredita que precisa de mais fôlego nas bilheterias). Os cinemas passaram a apostar todas as fichas no filme dirigido por Patty Jenkins também após a decisão da Disney de lançar “Mulan” direto no streaming (aliás, destino que também pode ser o de “Soul”, da Pixar, assunto que já circula nos bastidores). A questão é se dezembro não será o “novo julho”, uma vez que a pandemia não acabou e a disponibilização de uma vacina segue indefinida. (Deadline, IndieWire)
E na esteira do adiamento de “Mulher Maravilha 1984”, a Universal Pictures decidiu adiar o lançamento de “A Lenda de Candyman” para 2021, sem data definida. O filme de horror dirigido por Nia DaCosta também seria lançado em outubro. (Variety)
O Festival do Rio 2020 vai acontecer: com datas previstas de 3 a 13 de dezembro, o evento promete apresentar uma seleção de filmes brasileiros e estrangeiros em formato híbrido, ou seja, online e presencial. Os organizadores afirmam que o modelo está em fase de estudo e o festival será estruturado a partir dos protocolos sanitários previstos em lei para o período. Por hora, estão abertas as inscrições para a principal mostra competitiva, a Première Brasil. O prazo termina em 30 de setembro. (Festival do Rio)
A atriz Neve Campbell confirmou que está no elenco de “Pânico 5”, reprisando o papel de Sidney Prescott, a protagonista do filme original da franquia. Dirigido por Matthew Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (“Ready or Not”), o novo longa também trará de volta Courteney Cox e David Arquette, que vivem a jornalista Gale Weathers e o delegado Dewey Riley, respectivamente. O restante do elenco é formado por jovens atores, como era de se esperar: Jack Quaid (“The Boys”), Jenna Ortega (“You”), Melissa Barrera (“Vida”) e Dylan Minnette (“13 Reasons Why”) são alguns dos nomes. A estreia do filme no Brasil está prevista para 13 de janeiro de 2022. (Paramount Pictures)
Substituição no elenco do thriller psicológico “Don't Worry, Darling”, próximo filme de Olivia Wilde na direção: entra Harry Styles, sai Shia LaBeouf, que deixou o projeto devido a um conflito de agenda. Styles (“Dunkirk”) irá contracenar com Florence Pugh, Chris Pine e a própria Wilde. As filmagens devem começar nos próximos meses. Uma sinopse oficial não foi divulgada, mas sabe-se que a história é situada no deserto da Califórnia, nos anos 1950. O roteiro é assinado por Katie Silberman, que trabalhou com Wilde em “Fora de Série”. (Variety)
E olha que elenco terá o western “The Harder They Fall”: Jonathan Majors, Idris Elba, Regina King, Lakeith Stanfield, Zazie Beetz e Delroy Lindo. Dirigido por Jeymes Samuel (que já havia se aventurado no gênero antes com “They Die by Dawn”, de 2013), o longa fala sobre um fora da lei (Majors) que descobre que o homem que matou seus pais (Elba) está saindo da prisão. Ele então reúne sua gangue e se prepara para a vingança. O filme tem o rapper Jay-Z entre os produtores e será lançado pela Netflix. (The Hollywood Reporter)
Falei lá em cima de mulheres na direção com potencial de Oscar. Anote mais uma: Halle Berry. A atriz estreia na direção com “Bruised”, drama sobre uma lutadora de MMA, interpretada pela própria Berry. O filme está sendo exibido no Festival de Toronto como um “work in progress” e a Netflix fez a melhor proposta para adquirir os direitos de distribuição. Até o fechamento desta edição não havia previsão para o lançamento. Mas como o Oscar 2021 aceitará filmes lançados até fevereiro, Berry definitivamente está na fila. (Variety)
Anne Hathaway está no elenco do próximo filme de Doug Liman, intitulado “Lockdown”. Porém, o diretor de “A Identidade Bourne” e “No Limite do Amanhã” não fará um filme de ação com a atriz. Trata-se de uma comédia romântica situada durante a pandemia. O roteiro foi escrito por Steven Knight (“Coisas Belas e Sujas”) e detalhes da trama estão sob sigilo. O longa deve ser filmado por Liman antes do blockbuster espacial que ele pretende fazer com Tom Cruise. (Deadline)
Marion Cotillard está se juntando a Daisy Ridley no elenco da animação “The Inventor”, sobre a vida do mestre renascentista Leonardo Da Vinci. O filme foi escrito e será dirigido por Jim Capobianco (indicado ao Oscar por “Ratatouille”). Outros atores que irão emprestar suas vozes aos personagens são Stephen Fry (ele é quem dubla Da Vinci) e Matt Berry (da série “What We Do in the Shadows”). Trata-se de uma coprodução entre estúdios europeus e americanos, com previsão de lançamento para 2023. (Variety)
Quando a Netflix anunciou a produção de “Rebecca”, a maioria dos cinéfilos reagiu com desconfiança, como sempre acontece toda vez que um estúdio de Hollywood decide refilmar um clássico de Alfred Hitchcock. Porém, o diretor da nova versão, Ben Wheatley (“Free Fire”), faz questão de afirmar que seu filme não é um remake, mas sim uma nova adaptação do livro de Daphne du Maurier. “Refazer um filme não é tão interessante para mim, mas o material original sim”, o diretor disse, em recente entrevista. “Assisti a todas as adaptações. É importante ver o que aconteceu antes, mas certamente não é o foco. Eu queria fazer algo que tivesse mais amor. Faz parte de tentar investigar outras partes do ser humano. ‘Rebecca’ tem elementos sombrios e tem uma história psicológica assustadora, mas também é sobre essas duas pessoas apaixonadas. Isso foi o principal.” De fato, o trailer recém-lançado dá a entender que o filme de Wheatley tem mais cara de romance do que de suspense. Seja como for, as comparações serão inevitáveis. O elenco conta com Armie Hammer, Lily James e Kristin Scott-Thomas. O lançamento na Netflix acontece em 21 de outubro. (Empire)
A MGM está produzindo uma nova série baseada em “RoboCop”, que se concentraria em uma versão mais jovem do personagem Dick Jones, o vilão do filme de 1987. Ed Neumeier, um dos roteiristas do filme original, está envolvido no projeto. Jones é um executivo desprezível e altamente corrupto, vice-presidente da Omni Corps., a empresa que constrói o RoboCop. A série será sobre a ascensão dele na companhia e a decadência de Delta City. Lembrando que a MGM também trabalha separadamente em uma continuação direta do clássico dirigido por Paul Verhoeven. O roteiro, aliás, também foi escrito por Neumeier. (Moviehole)
In Memoriam: Morreu Diana Rigg, aos 82 anos. A atriz interpretou Olenna Tyrell em "Game of Thrones" e protagonizou "Os Vingadores" na TV nos anos 60. No cinema, foi a Bond Girl de "007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade" e atuou ainda em filmes como "O Despertar de uma Paixão", “Uma Razão Para Viver”, entre outros. Em 2021, ela será vista uma última vez em "Last Night in Soho", novo filme do diretor Edgar Wright (“Baby Driver”).
Vale ver: Diana Rigg em fotos. São muito anos de carreira e vários trabalhos no cinema, na TV e no teatro. (The Guardian)
Também morreu Ronald Harwood, roteirista vencedor do Oscar por “O Pianista”. Ele estava com 85 anos. Outros filmes escritos por Harwood incluem “O Escafandro e a Borboleta”, “O Fiel Camareiro” e “Austrália”.
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório