Próxima parada, Veneza?
Mantido em setembro, festival quer ser um recomeço para a indústria cinematográfica. Semana também teve novidades para fãs de Batman, "Anos Incríveis" com família negra e adeus a Morricone.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
Foto: La Biennale di Venezia
Veneza segue em frente. O diretor do festival, Alberto Barbera, deu uma longa entrevista à Variety e detalhou seus planos para o evento acontecer entre 2 e 12 de setembro, ainda antes do fim da pandemia de Covid-19. “Será o primeiro grande festival internacional que marca um recomeço. Um sinal não apenas de otimismo, mas também de apoio e solidariedade à indústria cinematográfica”, disse. Conforme Barbera havia antecipado em maio, ele afirmou que a Lido adotará todos os protocolos de segurança sanitária vigentes na Itália e deverá receber em torno de 55 filmes, distribuídos entre a competição oficial, a mostra Horizontes e as pré-estreias fora de competição. Sobre a presença de filmes norte-americanos, uma vez que os EUA voltaram a registar números assustadores de casos da doença, Barbera afirmou que Veneza receberá “produções independentes e filmes já concluídos - filmes que precisam ser promovidos e aceitaram nosso convite.” Ele não revelou títulos, óbvio, mas adiantou que não haverá filmes da Netflix. Barbera antecipou ainda que a seleção oficial de Veneza este ano contará com muitos filmes dirigidos por mulheres, o que ele considera surpreendente. “Não porque mudamos nossos critérios de seleção... Mas porque recebemos muitos filmes dirigidos por mulheres de ótima qualidade - melhores que os filmes de seus colegas homens”, acrescentou.
Enquanto aguardamos a seleção de Veneza, seguimos tendo notícias de títulos que seriam de Cannes. No caso desta notícia, uma série: “We Are Who We Are”, mais novo trabalho do diretor Luca Guadagnino (“Me Chame Pelo Seu Nome”). O projeto foi adquirido pela HBO e ganhou seu primeiro teaser. Trata-se de um drama coming of age em que dois adolescentes estrangeiros compartilham suas visões de como é crescer longe de casa enquanto seus pais servem às forças armadas em uma base militar dos EUA na Itália. O elenco conta com Chloë Sevigny, Alice Braga, Kid Cudi e Jack Dylan Grazer. A estreia será em setembro. (The Playlist)
Na onda de adiamento de estreias nos cinemas, a Universal Pictures remarcou as datas de lançamento de quatro de seus próximos filmes de horror. Confira: “A Lenda de Candyman” (produzido por Jordan Peele), de 25 de setembro para 16 de outubro; “Halloween Kills” (próximo filme da franquia “Halloween”), de 16 de outubro para 15 de outubro de 2021; “Halloween Ends” (supostamente o último longa da série), de 15 de outubro de 2021 para 14 de outubro de 2022; e “The Purge Forever” (nova entrada na franquia “Uma Noite de Crime”), de 9 de julho de 2021 para alguma data a ser definida futuramente. (Variety)
E com o Reino Unido promovendo a retomada das atividades econômicas, as filmagens de produções hollywoodianas recomeçaram no país, entre elas “Jurassic World: Dominion”, que está sendo rodado nos lendários estúdios Pinewood. A imprensa britânica chegou a noticiar que o estúdio iria interromper novamente a produção porque membros da equipe do longa testaram positivo para Covid. Mas a Universal nega que isso tenha ocorrido. A produção foi paralisada em março por conta da pandemia, com apenas quatro semanas de andamento. Os fãs de “Jurassic Park” aguardam ansiosos pelo filme, que trará de volta o trio do elenco original, Sam Neill, Laura Dern, e Jeff Goldblum, ao lado de Chris Pratt e Bryce Dallas Howard, protagonistas dos dois últimos filmes da franquia. (Variety)
Yalitza Aparício, indicada ao Oscar de Melhor Atriz por “Roma”, ainda não conseguiu trabalhar em outro filme. Porém, ela segue ativa nos bastidores e ajudando sua comunidade cinematográfica no México. Entrevistada pelo IndieWire, Aparício contou que está envolvida com a manutenção do Cine Too, um pequeno, mas importante cinema que serve como ferramenta educacional e um centro de formação para a próxima geração de cineastas indígenas mexicanos. O Cine Too também teve que fechar as portas por causa da pandemia e Yalitza se engajou na campanha para mantê-lo vivo. "É importante salvar esses espaços porque eles alcançam lugares onde as artes geralmente não são acessíveis. Eu venho de uma comunidade onde não há cinema e, como consequência, a população, especialmente as crianças, tem menos interesse pelas artes cinematográficas. O Cine Too pode instigar nelas a paixão pelo cinema e ensiná-las sobre essa forma de arte”, disse a atriz, que na entrevista também fala sobre discriminação por parte da mídia. “Já tivemos muitas pessoas sendo rotuladas em certos papéis ou personagens com base na cor de sua pele. Meu objetivo em minha carreira é dar visibilidade a todos nós que ficamos no escuro por tanto tempo”.
O próximo filme de Paolo Sorrentino será produzido pela Netflix. Com “The Hand of God”, o diretor de “A Grande Beleza” voltará a filmar em Nápoles, sua terra natal, mas detalhes sobre o enredo do projeto não foram revelados. A especulação é de que o título seja uma referência a Diego Maradona, que usou “a mão de Deus” para marcar o infame gol irregular que ajudou a seleção argentina a vencer a Inglaterra e conquistar a Copa do Mundo de 1986, no México. Maradona foi personagem de Sorrentino em seu filme de 2015, “Juventude”, e a Variety relembra uma entrevista do diretor em que ele conta sobre como o jogador involuntariamente salvou sua vida: “Perdi meus pais quando tinha 16 anos, em um acidente com o sistema de aquecimento de uma casa nas montanhas onde eu sempre costumava ir com eles. Naquele fim de semana, não fui porque queria ver Maradona jogar pelo Napoli, e isso me salvou.”
Pietro Marcello, diretor do elogiado “Martin Eden”, terminou de filmar “Lucio Dalla”, famoso cantor e compositor italiano que chegou a vender mais de 1 milhão de discos e escreveu músicas para nomes como Luciano Pavarotti e Mario Monicelli. No longa, Marcello também vai alternar cenas ficcionais com material documental, para mostrar a vida de Dalla através das suas canções mais famosas, tendo como pano de fundo a história da Itália do pós-guerra aos anos 80. (C7nema)
O criador da série "Euphoria", Sam Levinson, fez um filme secreto em meio à pandemia com Zendaya e John David Washington vivendo um casal. O longa é intitulado “Malcolm & Marie” e foi filmado entre 17 de junho e 2 de julho, inteiramente dentro de uma casa luxuosa na Califórnia. Embora filmadas em segredo, os sindicatos dos atores, diretores e roteiristas aprovaram a produção e o elenco e a equipe trabalharam sob rígidos protocolos de segurança. O enredo não foi divulgado. O filme será exibido pela HBO em data ainda indefinida. (Deadline)
Brad Pitt será o protagonista do thriller de ação “Bullet Train”, dirigido por David Leitch (“Atômica”, “Deadpool 2”). Baseado em um popular livro japonês, de Kotaro Isaka, o longa acompanha um grupo de assassinos com motivos conflitantes durante uma viagem de trem por Tóquio. O projeto é descrito como “Velocidade Máxima” encontra “Sem Escalas”, só que ao invés de um ônibus ou um avião, o cenário será um trem bala. A Sony Pictures espera poder filmar ainda este ano. (Heat Vision)
Jude Law será o Capitão Gancho em uma nova adaptação de “Peter Pan e Wendy”. O longa é uma das próximas versões live-action de animações clássicas da Disney, que já produziu “Malévola”, “Dumbo”, “Cinderela”, “A Bela e a Fera”, “Aladdin”, “Mogli”, entre outros. O novo “Peter Pan” será dirigido pelo talentoso David Lowery (“Sombras da Vida”), que já trabalhou com a Disney em “Meu Amigo, o Dragão”. Vale lembrar que recentemente tivemos a história de Peter Pan repaginada em “Wendy”, segunda longa do diretor Benh Zeitlin (“Indomável Sonhadora”), que nos concedeu entrevista exclusiva. (The Hollywood Reporter)
E eis que a nova adaptação de “O Lobisomem” terá direção de Leigh Whannell, de “O Homem Invisível”. A Universal Pictures e a produtora Blumhouse decidiram repetir a parceria com o cineasta, que agora deverá trabalhar com Ryan Gosling no papel principal. Whannell também é o autor do argumento do novo longa, baseado no clássico de 1941. O roteiro está sendo escrito por Lauren Schuker e Rebecca Angelo, da série “Orange is the New Black”. (Boca do Inferno)
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Os fãs do Homem Morcego irão ganhar mais do que apenas um novo filme do super-herói. O diretor de “The Batman”, Matt Reeves, também trabalha em uma série policial para HBO Max, ambientada em Gotham City. O roteirista Terence Winter, de “Boardwalk Empire”, também está envolvido com o projeto. O Batman será mais uma presença do que o protagonista da série. Os personagens principais serão dois detetives que trabalham na resolução de crimes e os eventos terão ligação com o longa-metragem estrelado por Robert Pattinson. No filme, Jeffrey Wright interpreta o Comissário Gordon, mas também não está claro se ele estará na futura série. (Heat Vision)
Tem mais Bat-Notícias: com a morte de Joel Schumacher, fãs passaram a pedir a Warner Bros. que torne público o corte original do diretor para “Batman Eternamente”. Parecia história de internet, mas o estúdio confirmou que Schumacher apresentou de fato uma primeira versão do filme com 170 minutos de duração e um tom mais sombrio. No entanto, a Warner não estaria convencida de que vale a pena recuperar os negativos e fazer a restauração. De todo modo, a pressão continua nas redes sociais com a hashtag #ReleaseTheSchumacherCut -- uma resposta ao movimento #ReleaseTheSnyderCut, que culminou com o anúncio de que a versão do diretor de “Liga da Justiça” será finalizada por Zack Snyder e lançada na plataforma HBO Max em 2021. (Variety)
Também tivemos a notícia esta semana de que a próxima Batwoman será negra. Javicia Leslie é a atriz escolhida para substituir Ruby Rose no papel principal da série, que já chamava a atenção por ser protagonizada por uma super-heroína bissexual -- característica que será mantida, mesmo com a mudança do nome da personagem. Com 33 anos, ela tem no currículos as séries “The Family Business”, “God Friended Me” e “MacGyver”. (Papo de Cinema)
A polêmica da semana: em uma live no Instagram, Halle Berry revelou que viverá um homem trans em seu próximo filme, ainda sem título. “A personagem é uma mulher que fez a transição para homem. É um projeto que eu amo e que eu posso vir a fazer”, disse. Como esperado, a declaração da atriz, que é uma mulher cis, gerou muitas crítica. O que ela fez? Publicou um texto nas redes sociais em que pede desculpas e afirma que não deveria ter considerado fazer o papel, pois a comunidade trans precisa ter a oportunidade de contar suas próprias histórias. Atitude correta. Mas seguimos sem informações sobre o filme em questão. (The Playlist)
A nostálgica série “Anos Incríveis” terá uma nova versão protagonizada por uma família negra. A ambientação também será no final dos anos 1960, época das mais relevantes para a luta pelos direitos civis e protestos contra o racismo nos EUA. Lee Daniels (“Preciosa”, “O Mordomo da Casa Branca”) será um dos produtores. Uma informação interessante é que o ator Fred Savage, protagonista da série original, será o diretor do piloto. Ele tem investido na carreira por trás das câmeras e já trabalhou em séries como “Modern Family” e “It’s Always Sunny in Philadelphia”. (Variety)
“Cenas de um Casamento”, um dos trabalhos mais celebrados de Ingmar Bergman, ganhará uma adaptação em inglês para a HBO. Oscar Isaac e Michelle Williams serão os protagonistas, que na versão de 1973 foram interpretados por Erland Josephson e Liv Ullmann. Originalmente, Bergman fez “Cenas de um Casamento” para a televisão, como uma minissérie. A recepção foi tão boa que o cineasta sueco editou uma versão condensada dos seis episódios para exibi-la nos cinemas. A direção e o roteiro do projeto da HBO serão de Hagai Levi, das séries “The Affair”, “In Treatment” e “Our Boys”. (The Hollywood Reporter)
In Memoriam: A semana começou com a triste notícia da morte de Ennio Morricone. O compositor italiano sofreu complicações de uma queda que sofreu em casa e na qual quebrou um fêmur. Ele estava com 91 anos e, enquanto tentava se recuperar do acidente, teve a chance de escrever o próprio obituário, em que se despediu de amigos, familiares e, principalmente, da esposa Maria Travia, a quem ele dedicou as duas estatuetas do Oscar que recebeu na carreira, após cinco indicações. A primeira foi em 2007, um prêmio honorário concedido pela Academia pelo conjunto de sua obra. Mal sabia o Oscar que Morricone estava longe de parar de trabalhar. O segundo Oscar foi vencido por ele quase 10 anos depois, pela trilha sonora de “Os Oito Odiados”, filme dirigido por Quentin Tarantino, um dos maiores entusiastas de Morricone no cinema americano. Uma das memoráveis trilhas sonoras de Morricone é a de “Cinema Paradiso”, clássico de Giuseppe Tornatore, um dos diretores italianos com quem Morricone mais trabalhou, juntamente com Sergio Leone, diretor da Trilogia dos Dólares, além de “Era uma Vez no Oeste” e “Era uma Vez na América”. O Maestro deixa um legado de algumas centenas de filmes que contam com suas músicas. Dono de um estilo inventivo e inconfundível, cuja sonoridade marcou gerações de cineastas e cinéfilos ao longo das décadas, Morricone também fez as trilhas de filmes como “Os Intocáveis”, “A Batalha de Argel”, “O Enigma de Outro Mundo”, “A Missão”, “Cinzas no Paraíso”, “1900”, “A Gaiola das Loucas”, “Ata-me” e “Bugsy”, só para citar alguns. Morricone também trabalhou com um grande artista brasileiro: em 1970, Chico Buarque de Hollanda estava no exílio e gravou um álbum em italiano com ele. O resultado da colaboração foi o disco “Per un pugno di Samba”, que brinca com o título do clássico faroeste espaguete “Por um Punhado de Dólares”, dirigido por Leone e estrelado por Clint Eastwood. Ouça aqui.
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório