Salas de cinema com os dias contados? Warner aumenta aposta e manda todos os seus filmes de 2021 simultaneamente para o streaming
Também no resumo da semana, novidades sobre: Elliot Page, David Lynch, Sundance, Festival do Rio, Cinemateca, Monolito de Utah, Gal Gadot, Margot Robbie e mais.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
Os estúdios de Hollywood estão mesmo dispostos a mudar o sistema de distribuição de seus filmes. O que começou com um título ou outro no início da pandemia, agora toma uma proporção que abre, de fato, o precedente para uma mudança mais profunda. Na última quinta-feira, 3 de dezembro, a Warner decidiu que todos os seus filmes previstos para 2021 serão lançados simultaneamente nos cinemas e no streaming, através de sua plataforma HBO Max. O estúdio afirma que é uma estratégia decorrente da pandemia, mas vale lembrar que a decisão foi tomada em um momento em que já existe uma perspectiva real de vacinação contra a Covid-19.
A cartela da Warner para o ano que vem envolve blockbusters como “Duna”, “Godzilla vs. Kong”, “Esquadrão Suicida 2”, “Tom e Jerry”, “Matrix 4”, entre outras grandes produções, além de filmes de prestígio como “Cry Macho”, próximo trabalho de Clint Eastwood. Assim como acontecerá com “Mulher-Maravilha 1984” a partir do próximo 25 de dezembro, esses filmes ficarão disponíveis por 30 dias para assinantes da HBO Max. Depois desse prazo, eles continuarão nos cinemas e posteriormente serão oferecidos como aluguel premium, o chamado PVOD, em todas as plataformas de streaming. (The Hollywood Reporter)
Vale lembrar, a decisão da Warner vale apenas para os Estados Unidos. Nos países em que ainda não há HBO Max, como o Brasil (a previsão é o serviço chegar aqui no final de 2021), o lançamento exclusivo dos filmes nos cinemas continuará a acontecer — desde que, claro, haja cinemas abertos.
Independentemente disso, a ousadia da Warner (que também é vista como uma tentativa desesperada de salvar a HBO Max, pois o serviço não emplacou como o Disney+ e ainda está milhas atrás da Netflix) deve reverberar por aqui mais cedo ou mais tarde. Há a pirataria, claro, e não existe serviço de streaming imune a ela. Mas uma outra variável é ainda mais perigosa para o futuro das salas de exibição: o público. A Warner sozinha não irá mudar nada. Quem fará isso é o público, a quem o estúdio está delegando o poder de decisão.
Os filmes irão continuar nos cinemas, mas agora também estarão na sua TV, pelo preço de uma assinatura mensal. O que você vai escolher? É claro que eu escolheria ir ao cinema. Mas este sou eu e, provavelmente, você também faria a mesma escolha. Mas e a sua família? E os seus amigos que não são cinéfilos? E as pessoas do seu trabalho? E os seus vizinhos?
Do alto da nossa cinefilia, a gente tende a achar que sustentamos o cinema sozinhos, mas isso está bem longe de ser a verdade. Quem sustenta é o público que lota salas no fim de semana de estreia, compra pipoca e prefere ver a cópia dublada. É, ironicamente, quem acha que a experiência da sala de cinema é superestimada. Esse público é mil vezes mais suscetível a escolher ver em casa um filme que também está nos cinemas (especialmente se não for um filme-evento). Aliás, já há uma pesquisa indicando exatamente isto. Os donos das redes de cinema, cujas ações despencaram, terão sim que fazer algo a respeito diante do que está ocorrendo.
Lembram, lá em abril, quando falávamos que outros estúdios poderiam aderir ao movimento da Universal, que foi a primeira a anunciar lançamentos simultâneos no cinema e no streaming? Pois é: Disney e Warner abraçaram a ideia com força. Sony e Paramount irão resistir até quando, com Apple e Netflix cortejando ambos a todo momento?
Claro, estamos falando dos grandes estúdios. As produtoras e distribuidoras independentes conseguem sobreviver sem eles e deverão manter seu público cativo junto aos “pequenos” exibidores. Mas não duvide que a situação, já difícil, ficará cada vez pior fora do mainstream também. Aqui, sim, o cinéfilo terá um papel fundamental, fazendo valer a força ritualística de ir ver um filme neste templo que chamamos de sala de cinema. A grande pergunta que ficará para ser respondida depois da pandemia é: quanto custará não mudar um hábito?
Em uma emocionante postagem nas redes sociais, Ellen Page revelou que é um homem trans e adotará o nome Elliot Page a partir de agora. “Me sinto sortudo de estar escrevendo isso. De estar aqui. De ter chegado nesse lugar na minha vida,” disse. “Eu não consigo nem começar a expressar o quão incrível é finalmente amar quem eu sou o suficiente para buscar o meu eu autêntico.”
No texto, Page ainda ponderou: “Também peço paciência. Minha alegria é real, mas também é frágil. A verdade é que, apesar de me sentir profundamente feliz no momento e saber quanto privilégio eu carrego, também tenho medo. Tenho medo da invasividade, do ódio, das ‘piadas’ e da violência.”
Indicado ao Oscar por “Juno” e famoso pelo papel de Kitty Pryde na franquia “X-Men”, Page está atualmente no elenco da série da Netflix “The Umbrella Academy”. No mesmo dia em que o ator fez a revelação, o estúdio se pronunciou dizendo que os créditos da série serão alterados e que Elliot continuará no elenco interpretando Vanya Hargreeves, personagem que é uma mulher cis e bissexual. (Nerdbunker, Variety)
Aparentemente, David Lynch está trabalhando em um novo projeto para a Netflix chamado “Wisteria”. Parece ser uma série e o título surgiu em uma recente edição da Production Weekly, publicação voltada para o mercado que traz informações sobre projetos em andamento em Hollywood.
Não há nenhum detalhe sobre o enredo: apenas o título (que pode ser temporário) e a indicação de que Sabrina S. Sutherland (com quem Lynch trabamou em “Império dos Sonhos” e “Twin Peaks: O Retorno”) está produzindo, com o início das filmagens previsto para maio de 2021. Nem Lynch, nem a Netflix comentaram até o momento.
O cineasta já havia indicado anteriormente em entrevistas que estava conversando com a Netflix sobre uma nova parceria, mas sempre desconversava quando perguntado se pretendia fazer um novo filme.
Outra indicação de que há mesmo algo no forno é uma recente entrevista da atriz Laura Dern, em que ela revela que recebeu um pedido de Lynch para raspar o cabelo para um novo trabalho. Lynch e Dern trabalharam juntos em filmes como “Coração Selvagem” e “Império dos Sonhos”, sendo que a colaboração mais recente entre eles foi em “Twin Peaks: O Retorno”.
Enquanto não há confirmação sobre esse possível novo trabalho de Lynch, o jeito é continuar acompanhando as previsões do tempo e sorteios do número do dia em seu canal no YouTube.
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Capturas da nossa Parabólica
— O misterioso monolito de Utah desapareceu. Pois é. E na Romênia, uma estrutura semelhante surgiu no meio de um campo. E desapareceu também. Ou seja, o que no início causou espanto e algum encantamento, agora pode não passar de uma elaborada brincadeira. (NPR)
— O Festival de Sundance terá uma edição bastante diferente em 2021, mas vai acontecer, de 28 de janeiro a 3 de fevereiro; de acordo com os organizadores, as exibições dos filmes irão acontecer em várias cidades, através de drive-ins e cinemas parceiros que estiverem abertos, ao mesmo tempo em que parte da programação será exibida online. (Variety)
— O Festival do Rio adiou sua edição 2020 para o ano que vem, em decorrência das dificuldades financeiras e da situação incerta da pandemia; sem data confirmada, mas previsto ainda para o primeiro semestre de 2021, o evento terá a seleção de sua principal mostra competitiva, a Premiére Brasil, anunciada no próximo dia 21 de dezembro. (Almanaque Virtual)
— A regressão de São Paulo à fase amarela do plano de controle da pandemia não fez as salas de cinema fecharem novamente; pelo menos por enquanto, espaços culturais seguem autorizados a funcionar, devido aos protocolos rígidos de segurança sanitária adotados, mas terão que reduzir ainda mais a capacidade máxima: de 60% para 40%. (Uol)
— Vários filmes sobre o golpe de 2016 já chegaram aos cinemas, mas ainda falta o de Anna Muylaert, realizado junto com Lô Politi; “Alvorada” -- que fará sua estreia mundial no Festival de Havana, agora em dezembro, e será lançado nos cinemas brasileiros no primeiro semestre de 2021 -- mostra cenas de Dilma Rousseff nos bastidores do impeachment, sendo o único filme que teve acesso quase irrestrito à presidenta nos momentos mais duros do processo. (Revista de Cinema)
— A Cinemateca Brasileira será gerida por uma organização social durante os primeiros três meses de 2021, quando será reaberta ao público, afirma o novo secretário nacional do Audiovisual, Bruno Graça Melo Côrtes; ele garante que os cerca de 40 funcionários especializados em preservação, documentação, pesquisa e tecnologia da informação, que trabalhavam na Cinemateca até agosto, serão recontratados até lá. (Agência Brasil)
— Gal Gadot foi escalada para estrelar o thriller de espionagem “Heart of Stone”, que está sendo planejado para se tornar uma potencial franquia no estilo “007”; o roteiro foi escrito por Greg Rucka (“The Old Guard”) e Allison Schroeder (“Estrelas Além do Tempo”), e a direção será de Tom Harper, de “Os Aeronautas” e “As Loucuras de Rose”. (Heat Vision)
— Margot Robbie vai substituir Emma Stone no elenco de “Babylon”, o ambicioso projeto de Damien Chazelle (“La La Land”) sobre os bastidores da Hollywood antiga; a informação é que Stone teve que deixar a produção devido a um conflito de datas com outros projetos. Outra novidade no elenco é Li Jun Li (“Assassinos Wu”), escalada para viver a lendária atriz Anna May Wong, considerada a primeira estrela chinesa de Hollywood. (Deadline)
— Armie Hammer vai interpretar o produtor Al Ruddy em “The Offer”, série sobre os bastidores de “O Poderoso Chefão” que a Paramount está produzindo para o seu próprio serviço de streaming; o roteiro escrito por Michael Tolkien (“O Jogador”) é centrado nas experiências de Rudy ao lado de Francis Ford Coppola, Mario Puzo e Robert Evans durante a realização do clássico drama de máfia vencedor do Oscar. (Live Feed)
— Oscar Isaac vai protagonizar a aguardada adaptação do game “Metal Gear Solid”, interpretando Solid Snake, um dos personagens mais icônicos do PlayStation; o filme é baseado no jogo criado por Hideo Kojima, tem roteiro assinado por Derek Connolly e será dirigido por Jordan Vogt-Roberts, de “Kong: A Ilha da Caveira”. (Deadline)
— Peter Dinklage deve participar da refilmagem de “O Vingador Tóxico”, clássico cult dos anos 80; o ator de “Game of Thrones” está em negociações com a Troma e a Legendary Pictures, mas ainda não está claro se ele será o protagonista da nova versão, escrita e dirigida por Macon Blair, de “Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo”. (Boca do Inferno)
— A Marvel recuperou os direitos do Demolidor e já pode pensar em fazer uma nova série ou um filme do super-herói; o personagem estava com a Netflix, sendo que, ironicamente, ele foi antes propriedade da Fox, hoje um estúdio pertencente à Disney, dona da Marvel. (Forbes)
— A série do Gavião Arqueiro na Disney+ ganhou reforço no elenco: Vera Farmiga (“Amor Sem Escalas”) e Florence Pugh (“Midsommar”) se juntam a Jeremy Renner e Hailee Steinfeld; vale lembrar que Pugh está no ainda inédito “Viúva Negra”, vivendo a irmã da personagem de Scarlett Johansson, papel que ela irá reprisar na nova série. (Variety)
— Charlie Brooker, criador de “Black Mirror”, fará um novo filme para a Netflix; ainda sem previsão de lançamento, o projeto é descrito como um “falso documentário sobre 2020” e terá Hugh Grant no papel de um historiador que é entrevistado sobre o “ano infernal”. (IndieWire)
— Aliás, a Netflix segue investindo em longas de animação e anunciou um novo projeto para 2021; com direção de Clare Knight e Harry Cripps, “Back to the Outback” tem uma cobra, um coala e um lagarto como personagens principais de uma aventura que começa com uma fuga do zoológico em que eles vivem, na Austrália. (Cartoon Brew)
In Memoriam
O ator inglês David Prowse, mais conhecido por interpretar Darth Vader na trilogia original de “Star Wars”, morreu aos 85 anos. Também um fisiculturista, Prowse chamou a atenção de George Lucas ao interpretar um segurança de quase dois metros de altura em “Laranja Mecânica”. Era exatamente aquele o porte físico imponente que o diretor desejava para o vilão (cuja voz, sabemos, não é a de Prowse, mas de James Earl Jones). Lucas, Mark Hamill, a própria Lucasfilm, atores e diretores, manifestaram pesar pelo falecimento de Prowse. Outros trabalhos em sua filmografia incluem “Casino Royale” (1967), “O Horror de Frankenstein” (1970), “O Circo dos Vampiros” (1972) e “Jabberwocky: Um Herói por Acaso” (1977).
Outro ícone do cinema de gênero que se foi é o ator australiano Hugh Keays-Byrne, aos 73 anos. Ele interpretou o vilão Toecutter em “Mad Max” (1979) e, décadas mais tarde, viveu Immortan Joe em “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015). O diretor de ambos, George Miller, declarou que Keays-Byrne foi “a cola que manteve [o primeiro ‘Mad Max’] inteiro.” Os dois se conheceram no início da carreira do cineasta, quando o ator trabalhava mais no teatro. “No começo eu o achei formidável ao ponto de ser assustador, porque ele estava tão interessado no papel [de Toecutter]. A verdade é que ele era uma pessoa calorosa e doce e que abraçava todos... Aprendi a atuar com ele, provavelmente mais do que com qualquer outra pessoa com quem trabalhei”, disse Miller ao IndieWire. A filmografia de Hugh também inclui títulos como “Reação em Cadeia” (1980), “Starship - O Guerreiro do Espaço” (1984), “Burke e Wills” (1985) e “Beleza Adormecida” (2011).
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório