Scorsese vale o risco?
Após cineasta mudar roteiro, Paramount recua e Apple assume milionário próximo filme do cineasta. E enquanto Tom Cruise vai ao espaço, SP ganha drive-in e Cinemateca corre novos riscos.
Foto: The New York Times
Quando a Netflix decidiu bancar “O Irlandês”, questionou-se muito qual retorno ela teria, já que o filme de gângster de Martin Scorsese custaria caro e não teria um lançamento tradicional nos cinemas. Apesar de não ter vingado nas premiações e os números de bilheteria e de audiência no streaming serem obscuros, publicamente a Netflix afirma que a aventura valeu a pena. E a prova de que Scorsese não se tornou um investimento de risco foi dada esta semana, com outra empresa dedicada ao streaming anunciando que irá financiar o próximo filme do cineasta. Com orçamento estimado em mais de US$ 200 milhões (quase o mesmo que “O Irlandês”), o épico “Killers of the Flowers Moon” será produzido pela Apple em parceria com a Paramount Pictures.
Primeiro, o projeto seria realizado “como antigamente”, apenas com a Paramount financiando. Mas, recentemente, Scorsese revisou o roteiro para que o papel de Leonardo DiCaprio não fosse apenas o de um investigador do FBI, nos anos 1920, responsável pelo caso de um genocídio indígena. Parece que Scorsese transformou o que seria uma trama policial em um denso estudo de personagem, com DiCaprio interpretando um homem de intenções ambíguas, influenciado pelas maquinações de seu tio, que será interpretado por Robert De Niro. Essa alteração deixou o filme “menos comercial” e causou preocupações nos executivos (sempre eles) da Paramount, que então recuaram de bancar o orçamento sozinhos. Foi aí que a Apple entrou. E a empresa (é estranho nos referimos à Apple como “estúdio”, não é?) não irá apenas entrar com o dinheiro. Ela também terá voz nas decisões criativas de Scorsese -- se é que alguém lá terá tamanha ousadia de contestar o diretor.
Quanto à Paramount, caberá o custo do marketing e do lançamento nos cinemas. Scorsese quer um circuito amplo, pois parece não ter ficado tão convencido assim da estratégia da Netflix, que lançou “O Irlandês” em um circuito limitado antes de disponibilizar o filme em sua plataforma. No caso de “Killers of the Flower Moon”, o lançamento na Apple TV+ deverá ocorrer não tão próximo da estreia nas telonas. Considerando que Scorsese é um entusiasta das salas de exibição e que a indústria aposta no sucesso da reabertura dos cinemas no pós-pandemia, o movimento da Apple não parece mesmo arriscado. Mas nós teremos que esperar um bocado ainda para vermos o filme e os resultados: a estreia deve acontecer somente em 2022. (The Hollywood Reporter, Variety)
E em meio às tratativas milionárias para realizar o novo longa, Scorsese fez um singelo curta durante o confinamento. Exibido na TV pela BBC e já disponível online, o filme tem cinco minutos de duração e traz o cineasta refletindo sobre o isolamento e a ansiedade que ele gera. Como bom cinéfilo que é, Scorsese relaciona seus apontamentos a cenas de filmes como “O Homem Errado”, de Alfred Hitchcock, e “Os Assassinos”, de Robert Siodmak. (Polygon)
“A Solidão da Riqueza” (Mr. Topaze, 1961), único longa dirigido por Peter Sellers, será relançado no próximo dia 12 de junho. O filme raro foi restaurado digitalmente a partir da única cópia em 35mm existente e será disponibilizado online, através do Cinema Virtual da distribuidora Film Movement, responsável pela restauração. Na comédia, Sellers também é o protagonista, um professor que perde o emprego e acaba se metendo em um esquema de corrupção. O roteiro é baseado em uma peça de Marcel Pagnol. Veja o trailer. (The Playlist)
Com o aval do governo, o Festival de Veneza confirmou suas datas para 2 a 12 de setembro. No entanto, os organizadores voltaram a dizer que a seleção deste ano provavelmente terá menos filmes do que nas edições anteriores. A confirmação também vem após uma consulta do festival a executivos da indústria cinematográfica para sondar a disposição de diretores e atores em comparecer ao festival. (Variety)
Outro festival importante que confirmou que acontecerá em setembro é o de Telluride, nos EUA. O evento está em sua 47ª edição e se tornou um dos locais prediletos dos estúdios para exibir seus filmes com pretensão de Oscar. Apesar da confirmação, os organizadores deixaram claro que os planos poderão mudar conforme o andamento da pandemia. (IndieWire)
E Cannes anuncia sua Seleção Oficial de 2020 na próxima quarta-feira, 3 de junho. Conforme informamos na newsletter há duas semanas, o festival não acontecerá este ano, mas divulgará uma seleção de filmes que receberão o selo de Cannes e serão exibidos em sessões especiais em outros festivais. A especulação sobre quais filmes estão na lista inclui “The French Dispatch”, de Wes Anderson, “On the Rocks”, de Sofia Coppola, “True Mothers”, de Naomi Kawase, “Memoria”, de Apichatpong Weerasethakul, e “Another Round”, de Thomas Vinterberg. Só não espere ver algum filme da Netflix ser anunciado: a plataforma não enviou nenhum de seus filmes mais aguardados para Cannes -- e também não deve exibi-los em outros festivais. (Variety, IndieWire)
Cá no Brasil, acaba de ser lançado o Cinema Virtual, serviço que pretende reunir lançamentos exclusivos e reverter parte da renda para redes exibidoras que correm o risco de fechar de vez por causa da pandemia. Apenas títulos inéditos nos cinemas e nas outras plataformas de streaming estarão disponíveis, sendo que a premiada animação “Os Olhos de Cabul” é o carro-chefe da estreia. O “ingresso” vale por 72 horas e custa R$ 24,90, mas há filmes com preços promocionais. Confira a programação da primeira semana. (Cineweb)
Enquanto alternativas online são criadas, os cinemas drive-in seguem em alta. São Paulo acaba de ganhar mais um: o governo do estado fez uma parceria com o grupo Belas Artes para criar um cinema drive-in no Memorial da América Latina. A inauguração está prevista para 16 de junho e a programação deverá contar com clássicos de Stanley Kubrick, incluindo “2001”, “Laranja Mecânica” e “O Iluminado”. Também estão previstas exibições de “Apocalipse Now - Final Cut” (ainda inédito no Brasil), uma seleção de filmes de Tim Burton e os sucessos “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e “A Origem”, ambos de Christopher Nolan. (G1)
Estudo da Ancine mostra que 80% dos ingressos vendidos em 2019 nas salas de cinema brasileiras foram meia-entrada. A pesquisa entrou em consulta pública para servir de base para "possíveis ações regulatórias", mas o texto da agência é claramente tendencioso no sentido de querer demonstrar que a meia-entrada é nociva ao mercado. Preocupante. Como tudo que vem do atual governo... (Papo de Cinema)
E o futuro da Cinemateca Brasileira segue em clima de total apreensão. Após circularem informações de que o governo federal havia decidido fechar a Cinemateca, a Secretaria Especial da Cultura emitiu nota afirmando que o espaço e seu acervo serão reincorporados pela União e que o contrato com a Associação Roquette Pinto será rescindido. De todo modo, o órgão não disse nada sobre o que pretende fazer para voltar a pagar salários de funcionários e contratos de manutenção do prédio. E pensar que tudo isso está acontecendo por melindres do presidente Jair Bolsonaro e da (ex-)secretária Regina Duarte. A Cinemateca é guardiã de 100 anos de história do cinema brasileiro. Um verdadeiro tesouro da memória nacional que corre o risco de virar pó sob os pés de gestores inconsequentes. Há uma petição online em favor da Cinemateca, subscrita por várias entidades do setor. Pessoas físicas também podem assinar. É que o podemos fazer de imediato para ajudar por enquanto. (UOL, Estadão)
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Sabemos que Tom Cruise gosta de fazer cenas de ação perigosas sem usar dublês. E cada vez mais, o ator tem usado o seu gosto pelo risco como marketing para seus filmes. Pois bem: a próxima “missão impossível” de Cruise será fora do planeta -- literalmente. Ele fez uma parceria com a NASA e com o mega-empreendedor Elon Musk para bancar o projeto que ainda não tem título, nem teve o enredo divulgado. A única informação é que terá cenas filmadas no espaço. A direção e o roteiro serão de Doug Liman, que já trabalhou com Cruise em “No Limite do Amanhã” e “Feito na América”. (Variety)
Por falar em megalomania, Christopher Nolan revelou que explodiu um Boeing 747 de verdade para uma cena de “Tenet”. Segundo o diretor, ele tomou essa decisão apenas por preciosismo para dar mais realismo ao filme, mas porque fez as contas e viu que comprar um avião ficaria mais barato do que criar a sequência toda usando miniaturas e computação gráfica. Quem pode, pode! Em tempo: a estreia do filme segue marcada para 17 de julho, nos EUA. (Total Film)
Com o sucesso de “O Homem Invisível”, a Universal Pictures agora quer fazer uma releitura de outro de seus monstros clássicos: “O Lobisomem”. E ao que tudo indica, Ryan Gosling será o protagonista. Ainda não está 100% certo e o ator aguarda a definição de um nome na direção para assinar com o estúdio. Um dos nomes cotados é o de Cory Finley, do elogiado “Má Educação”, produção da HBO estrelada por Hugh Jackman. (Variety)
Henry Cavill negocia com a Warner Bros. para interpretar o Superman mais uma vez. Não está claro se será em um novo filme solo do herói ou se será apenas uma participação em outro filme da DC Comics. A única coisa certa é que não é um contrato para eventuais refilmagens de cenas para a versão de Zack Snyder de “Liga da Justiça”, anunciada na semana passada. De todo modo, a notícia confirma o que o próprio Cavill já havia indicado no fim do ano passado, desbancando informações anteriores de que a Warner não tinha mais planos para o personagem na atual fase da franquia. Minha aposta é que ele estará em “Aquaman 2”, que só será filmado em 2021. Assim a DC repetiria (mais uma vez) a fórmula Marvel, seguindo o exemplo bem-sucedido da inserção de Hulk em “Thor: Ragnarok”. (Variety)
Scott Derrickson (“O Exorcismo de Emily Rose”) será o diretor da muito especulada continuação de “Labirinto: A Magia do Tempo”. O cineasta recentemente abandonou “Dr. Estranho 2” e estava à procura de um novo projeto. A trama do novo filme não foi divulgada. Será que Jennifer Connelly toparia reprisar o papel da protagonista? Seria interessante. O roteiro será escrito por Maggie Levin, das séries “Into the Dark” e “My Valentine”. (Deadline)
Awkwafina (“Oito Mulheres e um Segredo”, “A Despedida”) e Karen Gillan (“Jumanji: Bem-vindo à Selva”, “Vingadores: Ultimato”) serão as atrizes principais da comédia de ação “Shelly”. A trama gira em torno de uma assassina profissional que tem como próximo alvo a ex-colega de escola de quem era vítima frequente de bullying. Será o primeiro longa da diretora Jude Weng (série “The Good Place”), que vem de uma bem-sucedida carreira na televisão. (Deadline)
Álex de la Iglesia (“O Dia da Besta”, “Enigmas de um Crime”) fechou acordo com Sony e Amazon para produzir uma antologia de filmes de horror e suspense chamada “The Fear Collection”. O próprio cineasta espanhol dirigirá alguns dos longas, enquanto outros serão comandados por nomes como Jaume Balagueró (“[REC]”) e Paula Ortiz (“A Noiva”). A Sony cuidará da distribuição nos cinemas, enquanto a Amazon terá exclusividade no lançamento em streaming. (Variety)
Novidades em séries de TV: Leigh Whannell decidiu levar a continuação de seu primeiro longa, “Upgrade”, para a telinha. Ele contará novamente com apoio da produtora Blumhouse, com quem também realizou “O Homem Invisível”. (Deadline)
E ao que parece, não haverá mais filmes protagonizados por Lisbeth Salander. Após o relativo fracasso de “A Garota na Teia de Aranha”, a investigadora da tatuagem de dragão deverá voltar em uma série da Amazon. A ideia dos produtores é usar somente a personagem da franquia “Millennium”, criada pelo escritor Stieg Larsson, e conceber história inéditas para ela. A Sony Pictures, produtora dos filmes, também estará envolvida com a série. (Variety)
A Pixar lançou o seu primeiro filme protagonizado por um personagem assumidamente gay. O curta “Out” está disponível na Disney+ e faz parte da iniciativa do estúdio para incentivar novos realizadores da casa. O enredo é sobre um jovem adulto que se prepara para sair da casa dos pais para viver com o namorado. Porém, a família não sabe que ele é homossexual. É mais um pequeno grande passo da Pixar pela diversidade. O primeiro foi dado em “Dois Irmãos”, que traz uma personagem coadjuvante lésbica. (Papo de Cinema, Independent)
In Memoriam: Morreu Conceição Senna, atriz de “Iracema, uma Transa Amazônica”, “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” e “Ópera do Malandro”, entre tantos outros. Seu último papel foi em “A Coleção Invisível”. Também documentarista, ela era casada com Orlando Senna e foi uma grande defensora do audiovisual brasileiro. Na Revista de Cinema, um perfil completo sobre sua trajetória. Há um filme sobre o casal em produção, “O Amor Dentro da Câmera”. Está previsto para 2021.
Também morreu o ator Anthony James, de filmes como “No Calor da Noite”, “Corrida Contra o Destino”, “Trovão Azul”, “O Estranho Sem Nome” e “Os Imperdoáveis”. Ele já estava aposentado desde sua última colaboração com Clint Eastwood. (The Hollywood Reporter)
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório