Solidariedade a Cannes
Impossibilitado de acontecer mesmo em junho, festival pode formar parceria com outros festivais e ter formato inédito. Enquanto isso em Hollywood, um vislumbre de "Duna".
A sala de exibição do Palais des Festivals, em Cannes - Foto: Maratha Mandir
Foi uma semana dura para o Festival de Cannes. Logo na segunda-feira, dia 13, o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que eventos público no país continuarão proibidos pelo menos até meados de julho, em função da pandemia de coronavírus. A notícia foi um balde de água gelada nos organizadores, que tinham a esperança de realizar o festival entre o final de junho e o início de julho. A situação viria a piorar na quarta-feira, quando as mostras paralelas Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica anunciaram o cancelamento de suas edições de 2020. Ainda assim, o diretor de Cannes, Thierry Frémaux, e sua equipe resistem. O festival deverá, sim, acontecer, mas agora os planos estão indefinidos. Alianças estão sendo costuradas e Cannes pode acontecer em parceria com outros festivais. É que o se pode tirar desta fala de Frémaux:
“Como todos os anos, falo muito com o diretor de Veneza, Alberto Barbera, que está preocupado, obviamente. Desde o início da crise, aumentamos a possibilidade de fazer algo juntos se Cannes for cancelada. Continuamos a discutir isso. Outros festivais nos convidaram: Locarno, San Sebastián, Deauville. São gestos que nos tocam bastante. E em Lyon, no Festival Lumiere (em outubro), planejamos sediar várias estreias mundiais como parte do programa.”
Fato é que o último dia 16 era a data em que a seleção oficial dos filmes em competição seria anunciada. Segundo Frémaux, a equipe de curadores continuará a assistir aos filmes recebidos até o início de junho. Até lá, a especulação é livre sobre como seria ou será Cannes 2020. (The Hollywood Reporter, IndieWire, Variety e Screen Daily)
Prevista para a penúltima semana de julho, a Comic-Con de San Diego cancelou oficialmente sua edição de 2020, em função das restrições provocadas pela pandemia de coronavírus nos Estados Unidos. É a primeira vez em 50 anos de existência que a famosa convenção de quadrinhos, filmes e tudo mais que envolve a cultura pop não acontecerá. Os organizadores anunciaram que o evento retornará em 2021, nas mesmas datas. O cancelamento não deve afetar a CCXP, a versão brasileira da Comic-Con que acontece anualmente em São Paulo. Isso porque a CCXP está marcada para dezembro e não depende da convenção de San Diego para ser realizada. Se tudo der certo e a pandemia não se prolongar ainda mais do que o esperado, é provável inclusive que a CCXP tenha um público recorde e programação ainda mais intensa este ano, já que vários blockbusters foram adiados e os estúdios terão no Brasil a plataforma perfeita para divulgar seus próximos lançamentos. (Variety)
Cá no Brasil, o Festival de Gramado é o primeiro grande evento de cinema do segundo semestre a confirmar realização. Marcado para 14 a 22 de agosto, o tradicional festival gaúcho conta com a expectativa de que a pandemia terá arrefecido seu efeito até o meio do ano. A gente fica na torcida para que não aconteça com Gramado o que aconteceu com Cannes. Mas… Estamos lidando com um inimigo ainda desconhecido. (Cineweb)
Já o BIFF, Brasília International Film Festival, não quis nem saber e decidiu fazer sua edição 2020 totalmente online. Já tem até a programação. A abertura será com o documentário inédito “Anna Karina, para você lembrar”, de Dennis Berry, sobre a trajetória da atriz ícone de Nouvelle Vague. Na competitiva, destaque para o polonês “Corpus Christi”, de Jan Komasa, indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional. O evento acontecerá entre os dias 21 e 26 de abril. As exibições serão gratuitas, bastando apenas fazer um cadastro no próprio site para ter acesso. (Cinevitor)
A Disney adiou o lançamento da próxima animação da Pixar, "Soul", para 20 de novembro nos Estados Unidos. O filme tinha previsão para chegar aos cinemas em junho. No Brasil, infelizmente a estreia ficou para 7 de janeiro de 2021. Com a alteração de “Soul”, a Disney adiou também a animação "Raya and the Last Dragon" para 11 de março de 2021. (Filme B)
Enquanto grandes estúdios contam com datas mais adiante para seus filmes, os independentes estão cada vez mais se contentando com a distribuição online. O mais recente longa a ter seu lançamento nos cinemas cancelados e ir direto para o VoD é “Capone”, novo trabalho de Josh Trank (“Poder Sem Limites”). O filme (que até então se chamaria “Fonzo”) tem Tom Hardy no papel do famoso gângster e acompanha o período em que Al Capone sofria de demência, sendo assombrado por seu passado violento. O elenco ainda conta com Linda Cardellini, Matt Dillon, Kyle MacLachlan e Jack Lowden. A estreia em VoD, nos EUA, será em 12 de maio. Veja o trailer legendado. (IndieWire).
Fãs do clássico da ficção científica “Duna” finalmente puderam ver as primeiras imagens oficiais da nova adaptação do livro de Frank Herbert, agora com direção de Denis Villeneuve (“A Chegada”, “Blade Runner 2049”). Vale lembrar, a execrada versão dos anos 80 foi dirigida por David Lynch. O visual é bonito, ainda que um tanto derivativo de outras sagas sci-fi. No entanto, não dá para julgar muito, pois foram essas outras franquias que se inspiraram na obra literária em primeiro lugar. Não há previsão para o primeiro trailer ser revelado, mas não deve demorar. O elenco de “Duna” conta com Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Jason Momoa, Oscar Isaac e Josh Brolin. A previsão de estreia continua de pé: 17 de dezembro, no Brasil. Selecionei algumas das imagens abaixo, mas você pode ver todas aqui. (Vanity Fair)
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Novidades no elenco da série de “Star Wars” protagonizada por Cassian Andor, personagem de Diego Luna em “Rogue One”. Os atores Stellan Skarsgård (“Thor”, “Melancolia” e que por sinal também está em “Duna”) e Kyle Soller (“Anna Karenina”) foram escalados, mas não se sabe ainda para que papéis. Tony Gilroy, que trabalhou no roteiro de “Rogue One”, deve escrever o piloto da série e dirigir vários episódios. A previsão era para uma estreia em 2021 no Disney+, mas com todas as mudanças provocadas pelo coronavírus, é possível que o lançamento seja adiado. (Variety)
A WarnerMedia anunciou os três projetos que J.J. Abrams está desenvolvendo para a HBO Max, novo serviço de streaming da emissora. O cineasta será produtor do tão falado seriado “Liga da Justiça Sombria”, projeto da DC Comics que chegou a ter Guillermo del Toro como diretor quando ainda seria um longa-metragem. Abrams também fará uma série inspirada em “O Iluminado”, que contará diversas histórias situadas no Hotel Overlook, e uma terceira chamada “Duster”, que se passa nos anos 1970 e acompanha um motorista profissional que se envolve com o mundo do crime. A HBO Max será lançada em maio, mas as séries de Abrams ainda não têm data de estreia. (The Hollywood Reporter)
Robert Eggers, diretor de “A Bruxa” e “O Farol”, revelou alguns detalhes sobre seu terceiro longa, o épico de ação viking “The Northman”. As filmagens estavam perto de começar quando a pandemia de coronavírus o obrigou a paralisar tudo. Mesmo assim, ele e sua equipe continuam a fazer o que é possível de casa. “Estão trabalhando em armaduras para os personagens. Próteses estão sendo feitas. Estou fazendo meu trabalho com o diretor de fotografia [Jarin Blaschke] e o artista de storyboards. Há coisas que precisam estar acontecendo”, disse. O elenco é formado por Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Bill Skarsgård, Willem Dafoe e Anya Taylor-Joy. É provável que a gente só veja o filme em 2022 ou depois. (IndieWire)
A Netflix explicou como será a ajuda dada ao Brasil através do fundo milionário de apoio financeiro criado para auxiliar profissionais do audiovisual no mundo inteiro durante a pandemia de coronavírus. A gigante do streaming doará R$ 5 milhões a serem distribuídos entre até 5 mil profissionais brasileiros mediante cadastro prévio. O benefício consistirá no depósito de um salário mínimo, no valor de R$ 1.045. Podem solicitar a ajuda: produtores, assistentes, coordenadores, técnicos e operadores. O cadastro deverá ser feito no site icabrasil.org, a partir de 28 de abril. (Papo de Cinema)
E o cinema brasileiro tem novo secretário do Audiovisual: é o cineasta Heber Moura Trigueiro, nomeado pela atriz e secretária Especial de Cultura, Regina Duarte. Ele ocupa o cargo que quase foi do produtor André Sturm, programador do Petra Belas Artes e ex-secretário da Cultura de São Paulo, que chegou a ser anunciado pelo ex-secretário nazista Roberto Alvim. Trigueiro é roteirista, produtor e montador. Entre seus trabalhos no cinema, está “Federal”, drama policial estrelado por Selton Mello e dirigido por Erik de Castro em 2010. (Estadão)
In Memoriam: Morreu Brian Dennehy, aos 81 anos. Muito lembrado pelo papel do xerife Teasle em “Rambo: Programado Para Matar”, também atuou em filmes como “Mulher Nota 10”, “Cocoon”, “Silverado”, “Acima de Qualquer Suspeita”, “Ratatouille” (dublou o rato Django) “Cavaleiro de Copas” e a série “The Blacklist”. Ainda estava na ativa e deixa pelo menos dois filmes inéditos. (The Hollywood Reporter)
“Ele simplesmente era um grande ator... Ele também era um veterano do Vietnã que me ajudou muito a construir o personagem de Rambo. O mundo perdeu um grande artista.” -- Sylvester Stalone, no Twitter.
Também morreu o diretor de fotografia Allen Daviau, vítima de coronavírus. Ele tinha 77 anos. Foi indicado ao Oscar cinco vezes, por “E.T.: O Extraterrestre”, “A Cor Púrpura”, “Império do Sol” (todos dirigidos por Steven Spielberg), “Avalon” e “Bugsy” (ambos de Barry Levinson). (Deadline)
Na França, a COVID-19 tirou a vida da cineasta francesa Sarah Maldoror, reconhecida por retratar os movimentos de libertação colonial dos países africanos em filmes como “Des fusils pour Banta” e “Sambizanga”. Iniciou a carreira como assistente de direção de Gillo Pontecorvo e Chris Marker. (Cineweb)
E cá no Brasil, duas perdas importantes que não são exatamente do cinema, mas que colaboraram com a sétima arte ao longo de suas carreiras: o músico Moraes Moreira (autor, ao lado de Luiz Galvão, da trilha sonora de “Meteorango Kid: Herói Intergalático”, clássico do Cinema Marginal) e o escritor Rubem Fonseca (que assinou vários roteiros de filmes, incluindo “Stelinha”, de Walter Lima Jr., e “A Grande Arte”, de Water Salles, além de ter escrito livros e contos adaptados para a tela, como “Bufo & Spallanzani” e “O Cobrador”). (Zero Hora, El País)
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório