Trollagem nos bastidores de Hollywood
Universal compra briga com redes de cinema e ameaça lançar próximos filmes simultaneamente no streaming. Já a Academia muda regras do Oscar para aceitar filmes lançados online.
A animação “Trolls 2”, recordista de venda e locação no VoD - Distribuição: Universal
Enquanto a incerteza segue reinando sobre o mundo em tempos de coronavírus, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood começou a se movimentar. No último dia 28 de abril, a entidade realizou sua reunião anual em que são decididas as regras da próxima edição do Oscar. O encontro, obviamente, aconteceu por videoconferência. O principal: não se sabe mais quando o Oscar 2021 acontecerá. A data previamente anunciada era 28 de fevereiro de 2021, mas deverá mudar. É certo que haverá um Oscar, por obrigação contratual com a emissora ABC. Mas quando será a entrega das estatuetas é outra história. Enquanto o calendário não é definido, pelo menos duas decisões foram tomadas pela Academia. A primeira é que filmes que não puderam estrear nos cinemas devido à pandemia e foram lançados direto em streaming poderão concorrer (até então, havia uma obrigação de que todo filme elegível tivesse um número mínimo de sessões em um cinema de Los Angeles). A segunda novidade é que as categorias edição de som e mixagem de som serão fundidas em uma só. Esta regra, ao que parece, será permanente. Já a do streaming poderá cair em 2022 ou depois. (IndieWire)
Não foi uma semana tranquila nos bastidores de Hollywood. Além das prospecções para o Oscar 2021, teve iníciouma guerra entre a Universal Pictures e as grandes redes de cinema. Tudo, quem diria, por causa da animação “Trolls 2”. Lançado direto em streaming nos EUA no último dia 10 de abril, o filme tem feito tanto sucesso (mais de 100 milhões de dólares arrecadados em três semanas) que o CEO Jeff Shell se atiçou em afirmar que não dará mais prioridade para o lançamento dos próximos filmes do estúdio nos cinemas. Segundo ele, assim que os cinemas forem reabertos, produções da Universal serão lançadas nas salas e no streaming simultaneamente. A reação foi imediata: a rede AMC foi a primeira a dizer que filmes da Universal estão banidos de suas salas. O estúdio respondeu, dizendo que acredita na experiência cinematográfica e que a fala de Shell foi mal interpretada. Mas o fogo já tinha se alastrado e outras redes, como a Cineworld, também disseram que irão boicotar a Universal. Shell, então, veio a público para tentar esclarecer a confusão. Disse que o streaming irá complementar, e não substituir lançamentos nos cinemas. No entanto, ele não disse se desistiu da ideia de fazer lançamentos simultâneos ou em um espaço de tempo menor entre os cinemas e o streaming. (The Hollywood Reporter, IndieWire)
Obviamente, há uma grande disputa de interesses econômicos em jogo. Não há espaço para sentimentos afetivos pelas salas de cinema quando a discussão não é entre cinéfilos, mas sim entre empresas movidas a lucros. Vale lembrar que a própria AMC está à beira da falência com o fechamento das salas. Se perder público para serviços de streaming, adeus. Do outro lado, a Universal usou “Trolls 2” para testar algo que ela já vinha inclinada a fazer. Afinal, a animação seria lançada nos cinemas dos EUA e ainda será em alguns países, como o Brasil (pelo menos, até o momento não houve adiamento aqui e a estreia segue marcada para outubro). Se a Universal seguir sozinha em seu flanco, perderá a batalha. Mas se outros estúdios aderirem, a coisa complica para as grandes redes. E já há sinais de que isso possa acontecer: a Warner Bros. vem derrubando suas estreias nos cinemas sistematicamente. A mais recente a cair foi, não por coincidência, também uma animação: “Scooby!” E vale lembrar que a Disney desistiu de “Artemis Fowl: O Mundo Secreto”, que não é uma animação, mas também é um filme voltado para o público infantil, voraz consumidor de conteúdo audiovisual em casa.
Várias salas de cinema no Texas devem aderir à precoce onda de reabertura nos próximos dias, após receberem autorização do governo local. Os proprietários afirmam que é “apenas um teste” e que serão adotadas medidas rígidas de segurança sanitária, incluindo medição de temperatura dos espectadores na entrada. Já na Europa, o primeiro país a “testar” a reabertura de cinemas é a República Tcheca. A previsão é que as salas voltem a funcionar a partir de 25 de maio. Haverá restrição na lotação das salas e outras medidas. O governo tcheco afirma que a decisão poderá ser revogada, caso o número de casos volte a crescer. O Festival de Karlovy Vary não quis esperar para ver e cancelou sua edição deste ano, prevista para julho (Variety)
Isso é algo muito louco, né? Um governo permitir que as pessoas voltem a se aglomerar para “testar” se haverá novas infecções. Usar a população de cobaia é irresponsável demais. Claro que ninguém é obrigado a ir ao cinema e o risco é de cada um. Mas se o governo oferece acesso a esse risco, ele está agindo sem qualquer prudência.
Cá no Brasil, a primeira medida em que os donos de cinemas estão pensando é refazer o mapa de assentos como um “tabuleiro de xadrez”, para garantir a distância mínima entre os espectadores. Isso diminuiria a capacidade de cada sala, claro. Mas segundo a Cinemark, a rentabilidade da rede não seria muito afetada, pois sua taxa atual de ocupação já de uma frequência média em torno de 25%. Para filmes regulares isso pode até funcionar. Mas e os blockbusters? Para atender uma grande demanda de público, imagino que terão que exibir apenas um filme em todas as salas de cada complexo. (Filme B)
Já as distribuidoras Downtown Filmes e Paris Filmes vão disponibilizar 180 longas nacionais e internacionais de seus catálogos para serem exibidos nas salas de cinemas do Brasil quando elas forem reabertas. O valor do ingresso será revertido integralmente para os exibidores, como forma de ajudar a repor parte das perdas sofridas no período em que estiveram fechados. (Revista de Cinema)
Falando de iniciativas já em andamento, o Cine Passeio, tradicional cinema de rua de Curitiba, lançou neste fim de semana um projeto interessante para oferecer programação ao público enquanto a sala permanece fechada. Além de exibir filmes online, o cinema realizará masterclasses e podcasts (G1). Para algumas atividades é necessário fazer inscrição previamente. Outras salas tem oferecido alternativas similares. Aqui em Belo Horizonte, o Cine104 oferece filmes gratuitos de quarta a sábado, renovando o título em cartaz a cada 48 horas, sempre ao meio-dia. Vale acompanhar também a Cinemateca Capitólio, que tem compartilhado programação online pelo Twitter.
Fica aqui também a dica para acompanhar as atualizações do nosso post no site com as plataformas que estão oferecendo filmes grátis durante a quarentena.
O Festival de Tribeca anunciou os vencedores da sua primeira edição online. A comédia romântica adolescente “Você Nem Imagina”, dirigida por Alice Wu, venceu o prêmio de Melhor Longa de Ficção. O filme estreou na Netflix nesta sexta-feira. Já o Melhor Documentário foi “Socks on Fire”, de Bo McGuire. Ambos os premiados tratam de questões LGBT. O IndieWire tem todos os vencedores.
Por falar em Tribeca, o festival se uniu a Cannes, Veneza, Berlim e outros para oferecer uma programação conjunta no YouTube. Começando em 29 de maio, o festival global “We Are One” terá 10 dias de exibições gratuitas na plataforma. A seleção de filmes inclui longas e curtas e será revelada perto do início do evento. (Reuters)
Enquanto festivais online se proliferam, Locarno decidiu seguir o caminho de Cannes e Veneza e se negou a realizar uma versão virtual. Preferiu cancelar a edição deste ano, programada para 5 a 15 de agosto. No entanto, os organizadores irão oferecer um programa de auxílio financeiro para cineastas independentes que tiveram seus projetos interrompidos pela pandemia. O festival suíço também dará apoio às salas de cinema do país prejudicadas pela crise. (Variety)
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Que tal voltar para a Matrix? Parece tentador, não? Bom, falando do quarto filme da franquia, a diretora Lana Wachowski recrutou dois antigos colaboradores: Chad Stahelski e David Leitch. Coordenadores de dublês que se tornaram cineastas (Stahelski com a trilogia “John Wick” e Leitch com “Deadpool 2” e “Hobbs & Shaw”), eles tiveram papel fundamental nas cenas de ação dos três primeiros “Matrix”, basicamente a escola de ambos. Agora, eles atuam mais como consultores para as coreografias de lutas, já que a direção das cenas ficou com a própria Lana, e não com a equipe de segunda unidade, algo raro na indústria. As filmagens de “Matrix 4” estão temporariamente suspensas por conta do coronavírus. O lançamento está previsto para 21 de maio de 2021, mas, como sabemos, a data pode mudar - exatamente como aconteceu com “John Wick 4”, que acaba de ser adiado em um ano, para 27 de maio de 2022. (The Playlist, IndieWire)
A diretora Patty Jenkins tem um arco de quatro filmes planejado para “Mulher-Maravilha”. Após o segundo longa, ela quer fazer um spin-off com as guerreiras amazonas de Themyscira. E depois, uma terceira aventura solo da super-heroína para fechar a trama principal da “quadrilogia”. Parece promissor, mas Jenkins, claro, trabalha apenas com possibilidades por enquanto. Ela mesma admite que pode não dirigir esses dois próximos filmes, ficando apenas na produção e no roteiro. “Mulher-Maravilha 1984” está previsto para estrear em 13 de agosto e pode ser o primeiro grande sucesso do ano pós-pandemia, ainda mais se “Tenet”, de Christopher Nolan, não estrear em julho, apesar dos esforços do diretor. (Total Film)
Saiu o primeiro trailer da série “Lovecraft Country”, produzida por Jordan Peel e J.J. Abrams para a HBO. A trama de suspense e ação se passa nos anos 1950 e tem como protagonista um homem negro (Jonathan Majors, do elogiado “The Last Black Man in San Francisco”) que enfrenta os terrores do racismo no Sul norte-americano enquanto procura pelo pai desaparecido. Terrores que, segundo a sinopse oficial, poderiam ter saído de uma história de H.P. Lovecraft (daí a referência ao autor no título). Parece interessante. Estreia em agosto.
Adam Driver será o protagonista do próximo filme de Jeff Nichols, o aclamado diretor de “O Abrigo”, “Loving” e “Amor Bandido”. Os dois trabalharam juntos antes em “Destino Especial”. Em “Yankee Comandante”, Nichols contará uma história que se passa durante a Revolução Cubana. Ao que parece, Driver será um americano de Ohio que lutou ao lado de Che Guevara. O roteiro é baseado em uma reportagem da revista New Yorker, escrita por David Grann. Não se sabe ainda quando o filme será rodado. Driver ainda precisa concluir as filmagens de “The Last Duel”, filme de Ridley Scott em que ele contracena com Ben Affleck e Matt Damon. (Variety)
Já Daisy Ridley seguirá a vida pós-”Star Wars” com um thriller psicológico. A atriz estará na adaptação do livro “The Ice Beneath Her”, sobre uma especialista em Psicologia Investigativa que é recrutada para ajudar a resolver um caso de assassinato que guarda semelhanças com um crime não resolvido de uma década atrás. A direção será do coletivo Radio Silence, formado pelos diretores Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett e Chad Villella. Eles trabalharam na antologia “V/H/S/” e no filme “Casamento Sangrento”, lançado em 2019. (The Wrap)
Um giro rápido por outros projetos anunciados nos últimos dias: James Wan (“Invocação do Mal”) e o roteirista Derek Kolstad (“John Wick”) estão fazendo um filme policial de viagem no tempo chamado “Hunting Season”; depois do último “Halloween”, David Gordon Green dirigirá o piloto de uma série baseada em “Hellraiser” para a HBO (projeto que não tem ligação com o reboot anunciado antes pela Spyglass); a Disney fará uma versão live-action de sua animação “Hércules”, com produção dos irmãos Russo; já a Paramount anunciou uma animação prequel de “Transformers” com direção de Josh Cooley (“Toy Story 4”); o estúdio também agendou mais dois filmes live-action da franquia “Transformers”, sendo um com Bumblebee e o outro baseado em “Beast Wars”; por fim, também teremos mais um filme dos “G.I. Joe”, que dará sequência ao ainda inédito “G.I. Joe: Snake Eyes”, previsto para chegar aos cinemas em outubro. (The Hollywood Reporter, Variety, Deadline, Heat Vision)
In Memoriam: Morreu o ator indiano Irrfan Khan, aos 53 anos. Ele foi diagnosticado com um tumor neuroendócrino em 2018 e lutava contra o câncer desde então. Carismático e talentoso, Khan teve trajetória internacional atuou em filmes como "As Aventuras de Pi", "Quem Quer Ser um Milionário", "Jurassic World" e "The Lunchbox". Seu mais recente trabalho lançado no Brasil foi "O Quebra-Cabeça". (Variety)
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório