Ventos da mudança?
Após protestos antirracistas, "E o Vento Levou" ganha contextualização na HBO e "Os Simpsons" faz alterações no elenco. "Tenet" é adiado (de novo) e um velho Batman retorna.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
Vivien Leigh e Hattie McDaniel em “E o Vento Levou”. Foto: New Line Cinema
Demorou exatamente duas semanas e a HBO voltou com “E o Vento Levou” para o catálogo de seu novo serviço de streaming, HBO Max. Conforme prometido (e discutido em nossa live do dia 17 de junho), o clássico agora conta com um vídeo introdutório gravado pela professora de cinema e apresentadora do Turner Classic Movies, Jacqueline Stewart (uma mulher negra), no qual ela discute os motivos pelos quais o filme de 1939 deve ser visto em sua forma original, contextualizado e debatido. A HBO também adicionou um “extra” ao catálogo junto do longa: um segundo vídeo, de uma hora de duração, que apresenta a gravação de um debate intitulado “O Complicado Legado de ‘E o Vento Levou’”, realizado no TCM Classic Film Festival, em abril de 2019. (Variety)
Avisos e mudanças que dizem respeito a representações racistas em filmes clássicos não irão parar em “E o Vento Levou”. No Reino Unido, a operadora de TV Sky já tratou de adicionar um comunicado na descrição de vários outros títulos de seu catálogo, entre eles “Bonequinha de Luxo”, “O Cantor de Jazz”, “Flash Gordon”, “Os Goonies”, “Trocando as Bolas” e as animações da Disney “Mogli, o Menino Lobo” e “Dumbo”. Vale lembrar que esses casos incluem também representações racistas contra pessoas asiáticas e de outras etnias, não só pessoas negras. Filmes mais recentes também ganharam o comunicado, como “O Último Samurai” e “Trovão Tropical”. (Variety)
Outra medida corretiva foi adotada nas séries animadas “Os Simpsons” e “Family Guy”, ambas da Fox. Os produtores anunciaram que não irão mais escalar atores brancos para a dublagem de personagens de outras raças ou etnias. O ator Mike Henry, que faz a voz de Cleveland Brown em “Family Guy” desde o início da série, fez questão de comunicar aos fãs no Twitter que não irá mais dublar o personagem. No caso de “Os Simpsons”, a medida afeta principalmente o ator Hank Azaria, que já havia parado de dublar o indiano Apu, mas agora também não irá mais fazer as vozes do policial Lou, que é negro, entre outros que não sejam brancos. (The Hollywood Reporter)
Falando agora da pandemia de COVID-19, o Globo de Ouro demorou, mas também anunciou o adiamento de sua edição de 2020. Antes marcada para o início de janeiro, a cerimônia agora está prevista para 28 de fevereiro, que era a data original do Oscar 2021. As atrizes Tina Fey e Amy Poehler estão mantidas como apresentadoras da premiação. (The Hollywood Reporter)
No circuito de festivais, San Sebastián segue com o planejamento normal para sua edição deste ano e até anunciou o filme de abertura: “Rifkin’s Festival”, mais novo trabalho de Woody Allen, que inclusive foi rodado na região espanhola e tem um enredo que se passa no Festival de San Sebastián. Nada mais adequado, portanto. O elenco do filme traz Elena Anaya, Louis Garrel, Gina Gershon, Sergi López, Wallace Shawn e Christoph Waltz. (C7nema)
Enquanto isso, Locarno não anunciou filmes prontos, mas filmes inacabados. São produções que foram interrompidas pela pandemia e que irão concorrer a prêmios em dinheiro para serem finalizadas. A brasileira Juliana Rojas (“As Boas Maneiras”) está com seu novo projeto entre os selecionados por Locarno, entre eles novos trabalhos de Lav Diaz, Lucrecia Martel, Lisandro Alonso e Miguel Gomes. Saiba mais sobre o projeto de Juliana no nosso site.
Por fim, o Festival de Toronto anunciou que terá uma edição presencial e também uma “experiência online”. Na versão física, haverá sessões em salas de cinema e em drive-ins. A seleção de filmes será reduzida (de cerca de 300 filmes no ano passado para 50 este ano) e alguns dos títulos foram antecipados, incluindo o romance “Ammonite”, com Kate Winslet e Saoirse Ronan, “Another Round”, novo filme de Thomas Vinterberg, e “True Mothers”, da japonesa Naomi Kawase. Os organizadores não especificaram como será a programação online, mas parece que ela será dedicada aos debates e outros eventos especiais. O festival está marcado para 10 a 19 de setembro. (IndieWire)
E lá vamos nós para mais uma rodada de estreias adiadas. Os estúdios não aprendem, não é mesmo? Bom, a Warner acabou por adiar “Tenet” mais uma vez, agora de 31 de julho para 12 de agosto. Mas o estúdio ainda está confiante de que haverá cinemas abertos de julho e planeja relançar “A Origem” na data que era de “Tenet”. Diante do novo aumento de casos de coronavírus nos EUA, a Disney também teve que ceder e adiou o lançamento de “Mulan” de 24 de julho para 21 de agosto. E o thriller “Unhinged”, com Russell Crowe, que pretendia ser o primeiro grande lançamento da reabertura dos cinemas em 10 de julho, agora está marcado para o dia 31 do mesmo mês. Vamos ver até quando. (Variety)
O governo federal finalmente aprovou uma série de medidas emergenciais de amparo ao setor audiovisual brasileiro. Na última quarta-feira, o Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual realizou sua primeira reunião realizada sob a presidência do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Pequenas, médias e grandes empresas estão contempladas e cerca de 400 mil trabalhadores devem ser beneficiados. Para as empresas de exibição, fortemente impactadas pela pandemia já que os cinemas tiveram que fechar as portas temporariamente, serão destinados R$ 8,5 milhões para custear folha de pagamento, serviços terceirizados, fornecedores etc. O Comitê aprovou também Linha de Crédito Emergencial, no valor total de R$ 400 milhões, para manutenção dos empregos e das empresas do setor audiovisual atingidas pela crise. Aquelas que possuem empréstimos terão uma suspensão de seis meses nos pagamentos. Enfim, não é mais do que obrigação do governo prestar esse socorro, que é muito, muito bem-vindo, pois não há qualquer previsão real de retomada das atividades no Brasil. Quem trabalha com cinema por aqui terá ainda que ter muita paciência e resiliência. (Revista de Cinema)
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Os bastidores da DC Comics seguem movimentados. A novidade agora é que Michael Keaton voltará a interpretar Batman. Mas não é em um filme solo. O ator, que viveu Bruce Wayne nos dois filmes do Homem-Morcego dirigidos por Tim Burton, irá reprisar o papel em “Flash”. É que o roteiro é inspirado no arco das HQs “Flashpoint”, em que o herói velocista viaja pelo multiverso -- algo, aliás, já aludido em “Liga da Justiça”. Portanto, se a Marvel já tem suas dimensões paralelas e realidades alternativas, a DC agora também terá, igual acontece nos quadrinhos, mas com a vantagem de poder usar o imaginário dos filmes. Tenho que admitir que a possibilidade me deixa animado. Será que veremos outros Batmans? George Clooney, Val Kilmer, Christian Bale, Ben Affleck? E outras versões do Superman? Já tivemos uma prévia na televisão no final do ano passado, com o arco “Crise nas Infinitas Terras”, que trouxe até Brandon Routh de volta. Tudo irá depender da criatividade da roteirista Christina Hodson e, claro, das negociações com os atores. E por falar nisso, agora faz mais sentido aquela notícia sobre o Henry Cavill voltar a interpretar o Homem de Aço, mas não em um filme solo, hein? E o ator voltou a falar do interesse em vestir a capa não só mais uma vez, mas durante muitos anos. (The Playlist, Variety)
Enquanto aguarda o sinal verde para retomar as filmagens de “Jurassic World: Dominion”, o diretor Colin Trevorrow já acertou qual será seu próximo projeto: “Atlantis”. O cineasta também é autor do argumento, que reimagina o mito do continente perdido. Dante Harper, de “No Limite do Amanhã”, está escrevendo o roteiro. (Deadline)
Julianne Moore assinou com a Apple para protagonizar o filme “Sharper”, coprodução com a prestigiada A24, de filmes como “Hereditário” e “Lady Bird” e “Moonlight”. Não foram divulgados muitos detalhes sobre o projeto, negociado no Mercado (virtual) de Cannes. Sabe-se apenas que a personagem de Moore é uma vigarista que aplica golpes em milionários de Manhattan. A atriz também será produtora do longa. (The Playlist)
Já Margot Robbie assinou com a Disney para estrelar o próximo “Piratas do Caribe”. A atriz irá trabalhar novamente com a roteirista de “Aves de Rapina”, Christina Hodson. Não se sabe ainda qual será a trama do novo filme da franquia, mas aparentemente será uma história original e não terá a participação de Jack Sparrow. Também, pudera: após as polêmicas sobre violência doméstica envolvendo Johnny Depp, seria improvável vê-lo trabalhar com Robbie e Hodson, que acabam de fazer um filme de ação feminista. (Heat Vision)
Quer mais reboot? Então, toma: a Universal planeja um novo “Twister”, o famoso filme de furacão de 1996. Joseph Kosinski, de “Tron: O Legado” e “Oblivion”, está em negociações para dirigir. A produção será do veterano Frank Marshall, que está em busca de roteiristas. (Heat Vision)
Já a Aardman anunciou uma continuação de “Fuga das Galinhas” no dia em que a animação completou 20 anos de lançamento. O novo longa irá começar exatamente de onde o original terminou, mas não terá Mel Gibson dublando o galo Rocky novamente. Não foi dada uma explicação para a ausência do ator, embora seu personagem continue a ser o protagonista. A sequência agora será distribuída pela Netflix e deve ser lançada em 2022. (IndieWire)
Quem também estará na Netflix é a série “Cobra Kai”, que dá continuidade à história do clássico dos anos 80 “Karatê Kid”, com foco na revanche entre Daniel (Ralph Macchio) e Johnny (William Zabka). A série era do YouTube, que desistiu dela após mudar seu modelo de negócios para produções originais. A Netflix imediatamente comprou os direitos e pretende disponibilizar as duas primeiras bem-sucedidas temporadas até o final do ano. “Cobra Kai” é produzida pela Sony, que já estava preparando a terceira temporada antes de fechar negócio com a Netflix. (The Hollywood Reporter)
Depois do sucesso da sátira social sci-fi “Sorry to Bother You”, o diretor Boots Riley finalmente anunciou seu próximo projeto -- e é uma série de TV. Ainda sem plataforma, “I Am Virgo” terá o ator Jharrel Jerome (“Moonlight”) no papel de um homem de quase quatro metros de altura que vive em Oakland, na Califórnia. Nada além disso foi revelado pelo cineasta, que apenas prometeu que a história será sombria, absurda, hilária e importante -- por sinal, exatamente o que “Sorry to Bother You” é. Assista a esse filme, se você ainda não fez isso. (IndieWire)
A Apple revelou o trailer da série “Foundation”, baseada na influente “Trilogia da Fundação”, do escritor Isaac Asimov, uma das vozes mais respeitadas da ficção científica. O seriado tem David Goyer (da trilogia “O Cavaleiro das Trevas”) como showrunner e será exclusivo da Apple TV+. O lançamento está previsto para 2021.
In Memoriam: Perdas importantes esta semana. Morreu a cineasta Suzana Amaral, aos 88 anos. Ela teve problemas respiratórios graves, mas não estão relacionados à COVID-19. Suzana fez apenas três longas: “A Hora da Estrela”, “Uma Vida em Segredo” e “Hotel Atlântico”. Uma filmografia curta, mas de imensa importância e que são obras de destaque na relação entre o cinema e a literatura.
Também morreu o diretor Joel Schumacher, aos 80 anos. Ele lutava contra um câncer há alguns anos. São dele filmes como “O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas”, "Os Garotos Perdidos", "Um Dia de Fúria", "O Cliente", "Tigerland", "Por Um Fio", "Batman Eternamente", "Batman & Robin" e "8mm". Apesar de muito criticado, Schumacher marcou uma geração e fez filmes memoráveis. O último foi o suspense “Reféns” (2011), com Nicolas Cage e Nicole Kidman. Também dirigiu dois episódios de “House of Cards”.
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório