Apagão na Cinemateca
Em menos de 24 horas, instituição teve funcionários demitidos e site derrubado. Semana também teve comissão brasileira do Oscar 2021, “Tenet” adiado de novo e Lulu Wang refilmando Koreeda.
por Renato Silveira (@silveirarenato)
Cartazes atualmente expostos na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Os funcionários, que já estavam com salários atrasados há meses, foram comunicados da demissão nesta semana. Foto: Paulo Lopes/BW Press/Estadão Conteúdo, publicada originalmente no G1.
Foi um susto suficiente para deixar o sinal de alerta aceso em definitivo: o site oficial da Cinemateca Brasileira saiu do ar na quinta-feira, dia 13. Ele voltou a funcionar já na sexta-feira, sem qualquer explicação sobre o motivo de ter caído. O Banco de Conteúdos Culturais, que abriga parte do acervo digitalizado da instituição, também está acessível.
O site voltou, mas os funcionários da Cinemateca, não: eles foram demitidos sob o argumento de que não há verba para pagar seus salários, que já estavam atrasados. São 41 profissionais altamente qualificados e, agora, sem emprego. Eles eram mantidos pela Acerp (Associação Comunicação Educativa Roquette Pinto), organização social que fazia a gestão da Cinemateca até o governo federal tomar o controle da instituição, conforme noticiamos aqui na semana passada.
O Ministério do Turismo disse, em nota, que aguarda o envio da listagem dos trabalhadores para que as informações sejam repassadas para a nova organização social que será escolhida em processo de chamamento público. Para entender melhor a crise da Cinemateca, fica como sugestão ouvir o podcast da Abraccine, no qual o professor, pesquisador e teórico Ismail Xavier fala sobre a importância da instituição e a sua história. (Carta Capital, Estadão)
Outra instituição tradicional do cinema brasileiro está em apuros: a Escola Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro. Com 20 anos de atuação no mercado, formando profissionais em diversas capacidades, a escola terá que deixar o prédio dos Correios, que pediram na Justiça o imóvel de volta, alegando ocupação “sem amparo legal”. (Papo de Cinema)
O Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual voltou a se reunir na última quarta-feira, 12 de agosto, para tratar da situação orçamentária e financeira do FSA (que é o principal mecanismo de financiamento de produções audiovisuais no país) e a aprovação de propostas para a manutenção da política audiovisual brasileira. Foram informadas as medidas adotadas pela Ancine para recuperar sua capacidade de fomento ao setor e para dar tratamento aos cerca de 4.200 projetos com análise de prestação de contas em atraso. Isso mesmo: quatro mil e duzentos. Também foi apresentado um balanço das linhas de crédito emergenciais do fundo, no valor total de R$ 408,5 milhões, que garantem a preservação de empregos e de empresas impactados economicamente pela pandemia. Pequenos exibidores, com até quatro salas por complexo, serão contemplados através de programa de apoio específico. (Revista de Cinema)
No mesmo dia da reunião sobre o FSA, o Congresso Nacional derrubou os vetos do presidente Jair Bolsonaro ao projeto de lei que prorroga até 2024 benefícios fiscais voltados ao audiovisual por meio do Recine (Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica) e da Lei do Audiovisual. Neles, incentivos fiscais são destinados à modernização e expansão de salas de cinema pelo país e também à produção cinematográfica e televisiva brasileira. (Folha)
E com a retomada das atividades em todo o país, mesmo com a pandemia longe de acabar, produções brasileiras aos poucos também começam a voltar aos sets. É o caso de “Até a Noite Terminar”, que tem Milhem Cortaz e Simone Soares nos papéis principais. Dirigido por Caco Souza (“400 Contra 1”), o filme está sendo rodado com poucas pessoas no set e sem cenas mais íntimas, conforme explicou a atriz Clarisse Abujamra, que também integra o elenco. O longa contará a história do casamento entre um escritor e uma psicanalista, que está abalado pela recente fama dele e pelo estresse do trabalho dela. O casal decide passar um fim de semana num chalé romântico numa cidade pequena, mas um forte nevoeiro os surpreende na estrada. (Revista de Cinema, Estadão)
A Academia Brasileira de Cinema anunciou os membros da Comissão de Seleção do filme nacional que irá concorrer a uma vaga entre os cinco indicados ao prêmio de Melhor Longa-Metragem Internacional no Oscar 2021. Entre os escolhidos estão as diretoras Laís Bodanzky (“Bicho de Sete Cabeças”) e Viviane Ferreira (“Um Dia com Jerusa”), o fotógrafo Affonso Beato (“O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”) e o produtor Rodrigo Teixeira (“A Vida Invisível”). Por causa da pandemia, os filmes terão mais tempo para se qualificarem: poderão estrear nos cinemas até 31 de dezembro. Outra novidade é que a Academia de Hollywood reconheceu a Academia Brasileira como única instituição habilitada para inscrever filmes no Oscar. Ou seja, o governo federal não tem mais influência na formação da comissão. (Cinematório)
Enquanto o Brasil começa o processo de escolha, a Polônia é o primeiro país a anunciar seu representante para o Oscar 2021: “Never Gonna Snow Again”, da diretora Malgorzata Szumowska (“O Rosto”). Fala sobre um imigrante ucraniano que trabalha como massagista e se torna uma figura semelhante a um guru no condomínio fechado onde seus clientes vivem. O longa será exibido no Festival de Veneza, em setembro. Vale lembrar que a Polônia conseguiu seis indicações nas últimas 13 edições do Oscar, sendo a última este ano, com “Corpus Christi”. (Screen Daily)
Em tempo: a Netflix está levando suas intenções de Oscar tão a sério que contratou um compositor premiado pela Academia para fazer a música-tema de sua nova vinheta. Hans Zimmer criou uma versão estendida do famoso “Tu-dum” (veja e ouça) que acompanha o logo da plataforma no início e no fim de suas produções. A princípio, a nova vinheta deverá ser usada apenas nos filmes originais da Netflix, para ficarem com cara de produção de estúdio mesmo. Zimmer venceu o Oscar por “O Rei Leão” (1994) e foi indicado outras 10 vezes. A mais recente foi por “Dunkirk”, em 2018. (Tenho Mais Discos que Amigos)
O Festival de Locarno anunciou os vencedores de sua premiação para “Os Filmes Depois do Amanhã”: projetos que foram interrompidos pela pandemia e que agora terão ajuda financeira do festival para serem finalizados. Os principais premiados foram: a argentina Lucrecia Martel, com “Chocobar” (descrito como um documentário político que investiga aspectos da colonização a partir do assassinato do ativista agrário Javier Chocobar, ocorrido em 2009); o português Miguel Gomes, com “Selvajaria” (uma adaptação do livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, sobre a Guerra de Canudos); e a suíça Marí Alessandrini, com "Zahorí" (longa de ficção situado na Argentina, sobre uma amizade inusitada entre uma mulher da região suíça de Ticino e um homem mais velho do povo indígena Mapuche). A brasileira Juliana Rojas competia com “Cidade;Campo”, mas não foi premiada. (Festival de Locarno)
E que tal ir a um festival com ares medievais e homenagem a David Lynch? O Noir Film Festival, que acontece na República Tcheca, é dedicado a filmes noir e acontece em um castelo. Além de retrospectiva da filmografia de Lynch -- diretor fortemente influenciado pelo noir, com filmes como “Veludo Azul”, “Cidade dos Sonhos” e, claro, a série “Twin Peaks” --, a programação contará com um especial sobre o giallo, versão italiana do mais famoso subgênero do cinema policial. Será de 20 e 23 de agosto. (Cineuropa)
As novas dos festivais brasileiros: o Olhar de Cinema anunciou os primeiros longas brasileiros de sua programação, que este ano será totalmente online. Estão na lista três destaques da 23ª Mostra de Tiradentes (por sinal, o único festival brasileiro que aconteceu presencialmente em 2020): o horror “Canto dos Ossos”, vencedor da Mostra Aurora; o drama racial e escolar “Cabeça de Nêgo”; e o documentário indígena “Yãmiyhex: As Mulheres-Espírito”, vencedor da mostra Olhos Livres. O Festival de Gramado divulgou os curtas brasileiros em competição e os homenageados da 48ª edição: o ator Marco Nanini e a cineasta Laís Bodanzky. Já o Festival de Cinema de Vitória prestará homenagem a Gilberto Gil, relembrando sua trajetória musical no cinema.
A Disney anunciou oficialmente o lançamento de seu serviço de streaming, o Disney+, para novembro no Brasil. Fãs do estúdio e de suas produções -- bem como fãs da Marvel, de Star Wars e da Pixar -- aguardavam informações desde o ano passado, quando a plataforma começou a operar nos Estados Unidos. Porém, o tão esperado anúncio veio incompleto: o preço em reais da assinatura não foi divulgado e a estreia de “Mulan” também não foi mencionada. Os representantes da Disney no Brasil afirmaram que ainda não têm essas informações. (Cinematório)
A Warner remarcou novamente a estreia de “Tenet” no Brasil: agora de 10 para 24 de setembro. Na semana anterior, a partir do dia 17, está previsto um "Festival Nolan" (é assim mesmo que o estúdio está chamando), com relançamentos de "A Origem", "Interestelar" e "Dunkirk". Se as salas reabrirem no prazo estimado por distribuidores e redes de cinema, a Warner também pretende lançar no Brasil: "O Roubo do Século" em 27 de agosto; a animação "Scooby!" em 10 de setembro; "Mulher-Maravilha 1984" em 15 de outubro; e "Duna" em 17 de dezembro. (Cinematório)
Diretora do elogiado “A Despedida”, Lulu Wang fará um remake em inglês de “Pais e Filhos”, um dos aclamados filmes do diretor japonês Hirokazu Koreeda, vencedor da Palma de Ouro com “Assunto de Família”. A refilmagem está sendo desenvolvida pela Focus Features, que já contratou a dramaturga Sarah Ruhl para escrever o roteiro. Além de dirigir, Wang irá produzir o longa ao lado de Josh McLaughlin. O filme de Koreeda é de 2013 e estreou no Festival de Cannes, onde conquistou o Prêmio do Júri e Menção Especial do Júri Ecumênico. A trama acompanha duas famílias muito diferentes que descobrem que seus filhos de seis anos de idade foram trocados na maternidade. Wang deve filmar sua versão somente depois que finalizar a série “The Expatriates”, estrelada por Nicole Kidman e produzida pela Amazon. (IndieWire)
Após o sucesso de “O Homem Invisível”, a atriz Elizabeth Moss voltará a trabalhar com a produtora Blumhouse no thriller psicológico “Mrs. March”. O projeto é baseado no livro de mesmo nome escrito por Virginia Feito e que será lançado nos Estados Unidos em agosto de 2021. A história acompanha uma dona de casa do luxuoso Upper East Side de Nova York, cujo marido é um escritor bem-sucedido. Seu comportamento começa a mudar quando passa a suspeitar que a detestável protagonista do mais recente best-seller dele é baseado nela. O roteiro será assinado pela própria autora do romance. Ainda não há nome ligado à direção. Como Moss está abarrotada de novos projetos, teremos que aguardar para saber como este será encaixado na agenda da atriz. (The Hollywood Reporter)
Por falar na Blumhouse, a produtora anunciou uma antologia de oito filmes de horror para a Amazon. Apesar de cada um ter um diretor diferente, todos compartilham um tema comum, “centrado na família e no amor como forças redentoras ou destrutivas”, divulgou o estúdio. Os quatro primeiros títulos já poderão ser vistos agora, em outubro. Um deles é protagonizado pela atriz Joey King, de “A Barraca do Beijo”. Os outros quatro filmes serão lançados em 2021. (Variety)
Diretor do indicado ao Oscar “Lion: Uma Jornada para Casa”, Garth Davis foi escolhido para comandar o terceiro filme da franquia “Tron”. A Disney ainda não oficializou a realização do longa, mas corre nos bastidores há um tempo já que o projeto tem Jared Leto (“Esquadrão Suicida”) ligado ao papel principal. O último tratamento do roteiro foi escrito por Jesse Wigutow, que antes trabalhou apenas na comédia “Acontece nas Melhores Famílias”. Nada se sabe sobre o enredo do novo “Tron” por enquanto. A Disney planejava uma série baseada no longa original, mas o projeto não vingou. (The Playlist)
A Disney adora uma continuação e um remake, então, esta notícia aqui não é nada surpreendente: o estúdio fará um remake de “Três Solteirões e um Bebê” com Zac Efron no elenco. O ator iniciou a carreira na Disney, com a série “High School Musical”. A nova versão da famosa comédia será exclusiva do Disney+ a princípio. Ainda não se sabe se Efron fará o papel de Tom Selleck, Steve Guttenberg ou Ted Danson. O filme de 1987 foi dirigido por ninguém menos que Leonard Nimoy, o Sr. Spock de “Jornada nas Estrelas”, e também é um remake. O longa original é de 1985, foi dirigido por Coline Serreau e concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. (The Hollywood Reporter)
E como remake pouco é bobagem, toma mais um: vem aí uma nova versão da série “Fresh Prince of Bel-Air”. Protagonizada por Will Smith e exibida no Brasil com o título “Um Maluco no Pedaço”, a produção ganhou há um tempo atrás um vídeo satírico no YouTube em que era reimaginada como uma série dramática. O vídeo viralizou e Smith gostou tanto da ideia que decidiu levá-la adiante ao lado de seu autor, Morgan Cooper. Plataformas como Netflix e HBO Max já demonstraram interesse em adquirir o projeto. (The Hollywood Reporter)
Os fãs da DC que ficaram órfãos da Comic-Con este ano terão o evento online DC Fandome para satisfazer o apetite por novidades dos filmes, séries e demais produtos da marca. A atração será no próximo dia 22 de agosto e terá duração de 24 horas. A programação completa foi divulgada, trazendo debates com diretores e atores de “Mulher-Maravilha 1984”, “The Batman”, “Esquadrão Suicida 2”, “The Flash” e “Liga da Justiça”, versão de Zack Snyder. Assim como na Comic-Con, clipes com cenas inéditas de alguns dos filmes serão exibidos. O acesso ao evento será gratuito através do site da DC Comics. (Variety)
As primeiras imagens oficiais do novo filme de Sofia Coppola foram divulgadas. A comédia “On the Rocks” traz Bill Murray no papel de um bon vivant que ajuda a filha, interpretada por Rashida Jones, a investigar um possível caso extraconjugal do marido dela. Tudo acaba sendo um pretexto para os dois passarem um tempo juntos e colocarem à prova suas diferenças geracionais. Pelo que a diretora diz, a personagem de Rashida é seu alter-ego e o papel de Murray foi inspirado em seu próprio pai, Francis Ford Coppola. Esta é a terceira colaboração da cineasta com o ator, com quem trabalhou em “Encontros e Desencontros” e no especial natalino “A Very Murray Christmas”. O longa era aguardado para os festivais de Cannes ou Veneza, mas já será lançado direto nos cinemas agora em outubro, com estreia simultânea na Apple TV+. (Entertainment Weekly)
In Memoriam: Morreu, no sábado passado, a atriz Chica Xavier, aos 88 anos. Seu primeiro filme foi o clássico “O Assalto ao Trem Pagador” (1962), de Roberto Farias. Ela é mais lembrada pelos trabalhos na TV, mas também atuou nos filmes "A Deusa Negra" (1978), "Inocência" (1983), "A Partilha" (2001), entre outros. Outra ligação com o cinema, ainda que indiretamente, é a estreia de Chica Xavier no teatro, em 1956, interpretando a Morte em "Orfeu da Conceição". A clássica peça de Vinícius de Moraes seria logo depois adaptada para o cinema como "Orfeu do Carnaval" (1959), filme rodado no Brasil pelo diretor francês Marcel Camus e que ganhou a Palma de Ouro e o Oscar de Filme Estrangeiro. Conheça mais a carreira da atriz no site Mulheres do Cinema Brasileiro.
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório