O grande teste
Com data de estreia (ainda) preservada, "Tenet", o novo filme de Christopher Nolan, pode ser usado para testar reabertura dos cinemas em julho. No Brasil, já tem salas voltando a funcionar.
John David Washington, o protagonista de “Tenet” - Distribuição: Warner Bros.
Quase todos os principais lançamentos do verão americano já foram adiados por seus estúdios. Mas um ainda resiste e há uma boa razão para isso: “Tenet”, de Christopher Nolan, segue programado para estrear nos cinemas em 17 de julho (IndieWire). A aposta da Warner Bros. e do próprio diretor é que, até lá, será possível reabrir cinemas nos principais mercados. Assim, o blockbuster de ação, espionagem e ficção científica se tornará o primeiro filme a motivar o público a voltar às salas de exibição. É um movimento arriscado. E se ninguém aparecer? Ou talvez devêssemos perguntar: será seguro lotar um cinema já em julho? E mesmo com salas abaixo da capacidade, vale a pena “queimar” um blockbuster como esse? Sabemos que Nolan sempre atraiu um grande público e que ele é porta-voz da experiência da sala de cinema em Hollywood. Sua resistência até aqui é simbólica, portanto. Uma outra pergunta que fica é: como a Warner fará a publicidade (ainda tímida) do filme? Não soará insensível ou desrespeitosa, já que pouquíssimo tempo terá passado da catástrofe que estamos vivenciando?
Se você acha que reabrir cinemas em julho é uma ação irresponsável, o que dizer de cinemas que já voltaram a funcionar?Aconteceu no Rio Grande do Sul: no fim de semana passado, duas unidades da rede Cine Globo (uma em Santa Rosa e outra em Três Passos) reabriram as portas, com as salas operando com apenas 30% da capacidade e com orientação para as pessoas usarem máscaras e manterem distância de dois metros umas das outras. De acordo com o Papo de Cinema, 116 corajosos (para não dizer “inconsequentes”) espectadores frequentaram as salas.
Já no Rio de Janeiro, a situação dramática do Grupo Estação: não pode receber financiamento do BNDES para cobrir a folha de pagamento por ter tido em 2019 um faturamento acima do teto estabelecido; entretanto, com os cinemas fechados, não há receita que possibilite pagar os salários dos funcionários. (Filme B)
Em tempo: nos EUA, cinemas da Georgia estão autorizados pelo governo estadual a reabrir as portas já a partir do próximo dia 27 de abril. Porém, a expectativa é que as salas permaneçam fechadas, pois os proprietários temem consequências trabalhistas e econômicas ainda mais graves. (Variety)
O diretor do Festival de Veneza iniciou a semana desfazendo o que o diretor do Festival de Cannes tentou montar na semana passada. Roberto Cicutto afirmou à imprensa que Veneza vai sim acontecer de 2 a 12 de setembro e que nenhuma colaboração com Cannes está planejada (Folha). “Acho desconcertante que Thierry Frémaux siga falando que continua examinando a situação e não diga o que quer fazer”, comentou o italiano. “Se Cannes ainda está pensando, então não há diálogo”. Ao que tudo indica, a ventilada parceria terá que vencer uma senhora guerra de egos. Mas já teve bate e assopra. Quem tentou colocar panos quentes para amenizar a situação foi o diretor artístico de Veneza, Alberto Barbera. Em outro tom, disse que a 77ª edição do festival terá que ser “experimental” e que uma colaboração com Cannes seria "uma forma de solidariedade para com a comunidade cinematográfica global que está passando por um período sem precedentes". Barbera ainda disse que prevê o uso de máscaras e medidas de distanciamento social durante o festival. E que é possível que a seleção tenha mais filmes italianos, já que convidados internacionais poderão estar impedidos de viajar. (Variety)
Vale notar: toda essa preocupação, para um festival programado para setembro. Portanto, voltamos à indagação: como será possível reabrir cinemas em julho?
E enquanto Veneza trabalha com otimismo, Toronto, que também acontece em setembro, é mais pragmático: o festival já considera realizar sua edição de 2020 online. (Variety)
Um giro pelas últimas alterações no calendário de estreias de Hollywood: “Missão: Impossível 7” passou de 23 de julho de 2021 para 19 de novembro de 2021; “The Batman” foi de 25 de junho de 2021 para 1º de outubro de 2021; “Venom 2” pulou de 2 de outubro de 2020 para 25 de junho de 2021, enquanto o próximo “Homem-Aranha” foi transferido de 16 de julho de 2021 para 5 de novembro de 2021; já “Doutor Estranho 2” saiu de 5 de novembro de 2021 e mudou para 25 de março de 2022. Por fim, a animação “Scooby!” teve seu lançamento nos cinemas cancelado pela Warner e sairá direto no streaming já em maio agora. (Variety, The Hollywood Reporter, IndieWire)
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Mudando de assunto, novidades no elenco do próximo filme dirigido pela atriz Olivia Wilde: Florence Pugh, Shia LaBeouf e Chris Pine estarão em “Don't Worry Darling”, um thriller psicológico que se passa em uma comunidade utópica e isolada no deserto da Califórnia nos anos 1950. Pugh (que chamou a atenção no ano passado por “Midsommar” e “Adoráveis Mulheres”) viverá a protagonista: uma dona de casa que descobre uma verdade perturbadora sobre sua vida aparentemente perfeita. As filmagens devem começar tão logo seja possível. (Heat Vision)
Após o fracasso da adaptação do game “Assassin’s Creed” para o cinema, o diretor australiano Justin Kurzel promete voltar em grande estilo com seu próximo filme. Ele contou ao IndieWire que, em "The True History of the Kelly Gang", reimagina todos os estágios da história de Ned Kelly, registrando sua ascensão e queda como o nascimento de um psicopata. Kelly, um histórico fora da lei, já foi interpretado por Heath Ledger no filme homônimo de 2013. Agora, ele é vivido por George MacKay (“1917”). O filme já está pronto e deveria estrear neste mês, mas agora é mais um na fila por uma nova data de lançamento. Vale lembrar, Kurzel também dirigiu a interessante adaptação de “Macbeth”, de 2015, com Michael Fassbender e Marion Cotillard.
Novidades para fãs de “Star Wars”: uma nova série para o Disney+ está sendo desenvolvida pela cocriadora de “Boneca Russa” Leslye Headland. Não há detalhes sobre o projeto além de que terá uma mulher como protagonista e a história se passará em uma época diferente das já exploradas pela saga (Variety). Na série sobre Cassian Andor, de “Rogue One”, duas novas atrizes no elenco: Genevieve O'Reilly e Denise Gough, com a primeira reprisando o papel de Mon Mothma (Heat Vision). Por fim, Jon Favreau já está escrevendo a terceira temporada de “The Mandalorian”. Não só isso: artes conceituais também já estão sendo desenvolvidas (Variety). A segunda temporada estreia em outubro.
A Lionsgate confirmou que está desenvolvendo um filme prequel de “Jogos Vorazes”, baseado no novo livro da escritora Suzanne Collins, que será publicado no próximo 19 de maio. O diretor Francis Lawrence, que comandou três dos quatro filmes da franquia, retorna. Quanto ao elenco, ninguém deve voltar, uma vez que a história acompanha a juventude de Coriolanus Snow, personagem de Donald Sutherland. (Heat Vision)
“O Santo”, aquele filme de ação dos anos 90 com Val Kilmer, ganhará uma refilmagem com Chris Pine no papel principal. O roteiro também será inspirado nos livros de Leslie Charteris e a direção ficará com Dexter Fletcher (“Rocketman”). O roteiro está sendo escrito por Seth Grahame-Smith (“Sombras da Noite”, “Orgulho e Preconceito e Zumbis”). (Variety)
Os franceses que assinam a Netflix terão uma baita adição ao catálogo a partir deste fim de semana: a gigante do streaming assinou um contrato com a distribuidora MK2 e agora conta com mais de 50 clássicos dirigidos por nomes como François Truffaut, Charles Chaplin, David Lynch, Alain Resnais, Krzysztof Kieslowski, Michael Haneke, entre outros. A negociação levou em conta o período estendido de quarentena na França. É possível que a Netflix amplie a distribuição dos filmes da MK2 para outros países, mas não há data prevista para isso acontecer. Ficamos na torcida.
Por falar em quarentena, Guillermo del Toro iniciou uma thread no Twitter para compartilhar com fãs quais filmes e séries anda vendo durante o período de isolamento. Entre os títulos citados por ele está “Lírios D’água”, de Céline Sciamma. O fio ganhou adesão de outros diretores: Scott Derrickson viu e recomendou a série “Devs”, de Alex Garland (que é mesmo fenomenal, assistam!); Darren Aronofsky revisitou “Barton Fink”, dos irmãos Coen, e “O Vingador do Futuro”, de Paul Verhoeven, entre outros; Ari Aster foi de “Sopranos”; e Ava DuVernay revelou ser grande admiradora do húnguaro Béla Tarr e reviu “O Cavalo de Turin”. (IndieWire)
É isso. Até a próxima edição!
Forte abraço e cuide-se,
Renato Silveira
Editor-chefe do Cinematório